Pular para o conteúdo principal

Pequeno Histórico do Distrito de Nagé, em Maragogipe


Coordenadas: 12°43'31.43"S/ 38°55'59.15"O

Povoados: Santo Antônio de Aldeia; Encruzilhada; Brinco; Sobradinho; Tabuleiro das Navalhas; Bacalhau; Lagamar; Rio dos Paus de Baixo; Ponta de Souza; Serraria (Baixa Rica); Pinho.

Histórico:
A vila morena surgiu, no século XVII, em torno do porto que servia de atracadouro para os nativos e representantes de Santo Antônio de Aldeia, principal comunidade religiosa desta região naquele momento. Dois são os fatores preponderantes para que a vila criasse raiz, a sua proximidade com o rio Paraguaçu, principal via de acesso à capital do Império e, os perigos do século XVII, ou seja, as constantes guerras contra os indígenas e contra os negros fugidos que já formavam diversos quilombos e mocambos pela região. Um importante quilombo que tornou-se Terreiro, foi o do Pinho. Ele é o único de nação Jêje em Maragogipe e foi originado de um antigo quilombo, alguns dizem ser o terreiro mais antigo da Bahia, embora não existam registros para comprovação.

Já em 1724, com a elevação da Freguesia de São Bartolomeu de Maragogipe à categoria de vila, Nagé aos poucos começou a crescer, ganhando importância na produção de alimentos de primeira necessidade. Em, 13 de agosto de 1880, foi decretada lei provincial no 2077 criando o distrito de Nagé, e assim continuou até os dias atuais, mesmo depois de todas as novas leis, decretos e divisões territoriais.

Vila de pescador situada a quatro quilômetros de Maragogipe, com bela implantação paisagística e algumas construções interessantes. Nagé construiu sua história, não só com o pescado e com seu porto comercial, praticamente inativo, atualmente, devido à implantação da estrada e o fim da rota comercial marítima que ligou essa região durante quase quatro séculos de história. Desde o aparecimento da indústria fumageira até aproximadamente a década de oitenta do século passado, que o distrito de Nagé se voltou ao plantio do fumo e a fabricação de charutos. Porém quando houve um declínio devido ao fechamento das indústrias de fumo na região, as mulheres nageenses sem meios para conseguir seu sustento, colocaram em prática tudo o que aprenderam durante o auge da charutaria, e com isso, ficaram conhecidas como as “charuteiras domésticas”. Ex-operárias da indústria Suerdieck, que trabalhavam em casa, nos intervalos das tarefas domésticas, chegando a confeccionar até 100 unidades por dia. Mas novamente devido várias dificuldades, essa economia rudimentar, praticamente extinguiu-se.

Um tocante religioso-cultural de Nagé é a Festa do Senhor do Bonfim que por si só, é um atrativo a parte. Ela acontece no segundo domingo depois do Dia de Reis, no mês de Janeiro, com novenário solene e exposição do Santíssimo Sacramento pelo capelão na Igreja do Bonfim em Nagé. A população, esbanja-se em festa na “Lavagem da “Glória” ou Popular de caráter afro-religioso com grande participação do povo e uma característica marcante que todo maragogipano tem em seu jeito de festejar. Vale ressaltar, que nesta lavagem, toda rivalidade entre a vila morena e o distrito do Coqueiros do Paraguaçu é posta de lado, para que todos, louvem ao Santíssimo Sacramento.

Hoje, o potencial turístico que a vila morena possui é extraordinário, a Praia de Ponta de Sousa e do Pina e os veleiros e saveiros são os verdadeiros representantes de um passado não tão longínquo. No distrito de Nagé predomina a salga do xangô e em coqueiros o da petitinga. É um trabalho executado pela mão de obra feminina. As mulheres ficam sentadas nas portas de suas casas, tratam, salgam, enfiam em varetas e estendem ao chão os peixes para secarem ao sol. Depois são vendidos a litro ou em espetos no próprio município, em Santo Amaro e Salvador, atingindo preços insignificantes em épocas de grande produção. Os peixes maiores são vendidos frescos nas feiras livres, ou conservados em gelo e levados para serem vendidos em Salvador. Alguns mariscos são aferventados antes de serem comercializados, o que facilita a sua conservação.

Escrito por Zevaldo Luiz Rodrigues de Sousa
Formado em História na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Comentários

Top 5 da Semana

Uma Breve História de Maragojipe, por Osvaldo Sá

Obs.: Este blog é adepto da grafia Maragogipe com o grafema G, mas neste texto, preservamos o uso da escrita de Maragojipe com o grafema J defendida pelo autor. Uma Breve História de Maragojipe Por Osvaldo Sá A origem do município de Maragojipe, como a de tantos outros municípios do Recôncavo Baiano, remonta ao período do Brasil Colonial, durante o ciclo da cana-de-açúcar. Conta a tradição popular que a origem do município deveu-se à existência de uma tribo indígena denominada “Marag-gyp”, que se estabeleceu em meados do século XVI às margens do Rio Paraguaçu. Destemidos e inteligentes, mas adversos à vida nômade, esses indígenas dedicavam-se ao cultivo do solo, à pesca e a caça de subsistência, manejando com maestria o arco e flecha e também o tarayra (espécie de machado pesado feito de pau-ferro), com o qual eram capazes de decepar de um só golpe a cabeça do inimigo. Osvaldo Sá, 1952 - Aos 44 ano Segundo a tradição da tribo, os mais velhos contavam que suas pri...

Fotos antigas de São Félix, no Recôncavo da Bahia

Desde as primeiras décadas de sua existência a fotografia já mostrava o seu imenso potencial de uso. A produção fotográfica de unidades avulsas, de álbuns ou de coletâneas impressas abrangia um espectro ilimitado de atividades, especialmente urbanas, e que davam a medida da capacidade da fotografia em documentar eventos de natureza social ou individual, em instrumentalizar as áreas científicas, carentes de meios de acesso a fenômenos fora do alcance direto dos sentidos, as áreas administrativas, ávidas por otimizar funções organizativas e coercitivas, ou ainda em possibilitar a reprodução e divulgação maciça de qualquer tipologia de objetos. (leia mais em Fotografia e História: ensaio bibliográfico ) Neste sentido, a disponibilização de imagens fotográficas para o público leitor deste blog, é uma máxima que nós desejamos, pois a imagem revela muitos segredos.  Para ver mais fotografias: VISITE NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK Enchente em São Félix - cedido por Fabrício Gentil Navio da...

Prefeitos de Maragogipe, do final do Império à Atualidade

Durante os períodos de Colônia e Império, aos presidentes da Câmaras de Vereadores atribuíam se-lhes as disposições executivas. O plenário votava a matéria e o presidente executava a proposição aprovada. Dos presidentes da Câmara de Vereadores de Maragogipe, os que exerceram por mais vezes o cargo, foram o Pe. Inácio Aniceto de Sousa e Antônio Filipe de Melo. O primeiro, no meado do século XIX, eleito deputado à Assembléia Provincial, renunciou ao mandato, porque optou pelo de Vereador à Câmara de Maragogipe, e se elegeu presidente desta. Como Presidentes do Conselho Municipal Manuel Pereira Guedes      (1871 - 1874) Artur Rodrigues Seixas       (1875 - 1878) Antonio Filipe de Melo      (1879 - 1882) Dr. João Câncio de Alcântara (1883 - 1886) Silvano da Costa Pestana   (1887-1890) Com a República, cindiu-se o poder, adotando a corporação o nome de Conselho, e o executivo o de Intendente. Com este n...

Padres da Paróquia de São Bartolomeu de Maragogipe

A história de Maragogipe está ligada ao  culto de São Bartolomeu que data dos primórdios da sua vida, da época em que iniciava a sua formação, quando saía das trevas da vida selvagem para iniciar a sua marcha gloriosa na senda do progresso sob o signo o abençoado da Cruz Redentora. A devoção dos maragogipanos para com o Glorioso Apóstolo vem também dos seus primeiros dias, do tempo em que era ainda uma fazenda pertencente ao luso Bartolomeu Gato, e nela, encontramos o primeiro vigário da Paróquia de São Bartolomeu. A lista abaixo retrata um pouco desta história, as datas ao lado do nome é o ano de início de sua vida enquanto evangelizador. Todavia, em diversos nomes nós não encontramos a data específica, pois somente há deduções. Caso o leitor possa estar contribuindo com a mudança desta lista, pois ainda sim, acreditamos que esteja faltando alguns nomes, será muitíssimo interessante. Agradecemos antecipadamente. (Leia mais sobre " O Culto de São Bartolomeu ", escrito por Odi...

Sátira das Profissões, um documento egípcio que valoriza o escriba

Este é um trabalho de Pesquisa do Documento "Sátira das Profissões" escrito egípcios que contém incômodos existentes em cada tipo de trabalho, assim como a valorização do Escriba enquanto profissional. A leitura deste documento demonstra que a atividade intelectual era valorizada no Egito Antigo, muito diferente das atividades braçais que são classificadas de maneira grosseira pelo escritor do documento. O tema é curioso. É a história de um pai Khéti que conduz o filho adolescente Pépi para a escola de escribas da Corte por ser, segundo ele, a mais importante das profissões e durante a viagem da barca resolve comparar vários ofícios. Figura retirada do jogo Faraó, feito pela Sierra e sob licença da VU Games. Quais são as profissões do texto? As profissões descritas no texto são Ferreiro, Marceneiro, Joalheiro, Barbeiro, Colhedor de Papiro ou de Junco (que na verdade ele colhe o junco para daí fazer o papiro), Oleiro, Pedreiro, Carpinteiro, Hortelão, Lavrador, Tecelão, Por...