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A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos (Carlos Lopes)

Neste momento, você terá a oportunidade de ler um pouco do fichamento do texto de Carlos Lopes "A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos.

Na introdução Carlos Lopes tenta traçar uma “apresentação crítica dos argumentos avançados pelos três grandes momentos de interpretação histórica da África” (LOPES; 1995). Para ele a historiografia deste continente tem sido “dominada por uma interpretação simplista e reducionista”, mas antes do autor começar a falar sobre estes momentos, ele demonstra um paralelo da historiografia africana com um momento “em que os historiadores estão cada vez mais próximos do poder”, e afirma que estes historiadores são todos de uma mesma escola historiográfica que proclama “a necessidade de uma reivindicação identitária”, citando como exemplos “de uma interdependência entre a História e o domínio político

“Inferioridade Africana”


É através do paradigma de Hegel - o "fardo" do homem branco -, que o ocidente conheceu durante muito tempo a História da África. O filosofo alemão Hegel traça consideração sobre a chamada África Negra, ou seja, a região do continente localizada além do deserto do Saara, demonstra que a África não tem história antes da colonização e que ela precisava do da civilização europeia para ter uma história consciente. Todavia, com a chegada de novas correntes, este paradigma fracassará, havendo uma mudança na interpretação histórica.

Carlos Lopes pergunta em seu texto: “A que se deve esta “inferioridade Africana”?”. A resposta está nas suas raízes e cicatrizes. Lopes diz que “suas raízes são profundas e suas cicatrizes demoram a desaparecer”, as bulas papais deram direitos aos países europeus, principalmente, aos países católicos, sobre os povos negros. Para isso, Lopes demonstra exemplos artísticos e em outros campos do conhecimento que estão ou foram feitos em solo africano e que os europeus reclamam sua influência. Para Lopes “a inferioridade Africana foi fortificada” ainda “pela estrutura da colonização, suposta incluir a dominação física, humana e espiritual.”, e esta estrutura impõe um olhar dicotômico sobre África e africanos. Porém ele demonstrar que essa corrente é dominada por historiógrafos não africanos.

“Superioridade Africana”

Joseph Ki-Zerbo, historiador
Mas como toda história, temos sempre o lado oposto. E neste caso, os historiadores africanos formaram sua própria corrente historiográfica. Ki-Zerbo gostaria e muito de chamá-la de "Corrente da pirâmide invertida”. Neste momento Ki-Zerbo vai usar “o argumento do também temos em vez de apenas temos história” influenciando vários historiadores contemporâneos. Porém essa corrente buscou também outro objeto que não era apenas História presente-passado, eles queria fazer um história do amanhã, fora isso numa “busca incessante de fatos produtores de uma projeção da historicidade reconhecida” fizeram uma comparação com os modos historiográficos de outras regiões do mundo, principalmente, européia, com a historiografia africana. Assim fizeram uma História “das interações e dos oprimidos” que se concentra “nas mudanças sociais, na contribuição africana, na resistência ao colonialismo e no conceito de iniciativa local”. Essa corrente vai mostrar que a civilização ocidental bebeu do conhecimento negro.

Historicidades complexas face a historiografias ideologizadas.
Neste momento, Carlos Lopes mostrará que “o produto historiográfico não tem nenhuma independência ou autonomia, depende inteiramente do momento e ideologia que influenciam a sua concepção”, numa abordagem que visa a demonstração de que nada é para sempre e tudo está sempre em mudança, desde a história até a historiografia, por isso essa corrente influenciada pela Nova História vai demonstrar que não podemos viver uma ideologia ao escrever história, devemos sim perceber que a história tem um sentido de explicação no âmbito passado-presente e não no passado-futuro.

Emoções controladas
Depois de tantas transformações, Carlos Lopes reconhecerá que a historiografia africana terá suas emoções controladas, e que naquele momento era preciso “afinar as técnicas, conhecer as tendências transnacionais, e quebrar as barreiras e tradições impostas pelas línguas oficias”. Com o entendimento de que não podemos prever o futuro e “hesitando em descrever o passado recente e querendo quase apagar largas porções do passado remoto são indicações de desconforto que exigem uma reinterpretarão histórica”. Por fim, Lopes afirma que podemos descobrir a nossa história com a interpretação coerente da História da África.


Bibliografia:

LOPES, Carlos. “A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos”. In Actas do Colóquio Construção e ensino da história da África. Lisboa: Linopazes, 1995.

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