Pular para o conteúdo principal

Biografia de Juarez Guerreiro, in MEMÓRIA DE MARAGOGIPE

Por Carlos Laranjeiras

Não houve na história de Maragogipe – e certamente não há ainda – político mais importante do que Juarez Guerreiro. Símbolo de uma época, cujo prestígio pessoal influenciava no resultado de eleições, atraia a Maragogipe candidatos a governador, deputado federal e deputado estadual, que lhe beijavam a mão.

Por causa da sua influência política, Maragogipe recebeu a visita de Régis Pacheco, medico de Vitória Conquista, eleito para o governo do estado em 1951 e de Antônio Balbino, sucessor de Regis no governo da Bahia em 1955. Balbino foi também deputado federal, senador e ministro de dois governos: Getúlio Vargas e João Goulart.

Ao chegar a Maragogipe, Antônio Balbino era recebido na “ponte do navio” pela Filarmônica Terpsícore Popular e hospedava-se na casa de Juarez, no Caminho do Caijá (ou Cajá?), a qual atraia tanta gente que mais parecia igreja em dias de festas de São Bartolomeu (Caijá ou Cajá suscitaram uma boa discussão pelos jornais nos anos 60, mas quem venceu foi Bartolomeu Americano, a qual pretendo lembrar em breve).

Juarez era do PSD, legenda também de Regis Pacheco, Antônio Balbino e Waldir Pires, que viriam a integrar na Bahia o MDB, mas se vivesse até o final dos anos 60, quando os militares já se encontravam à frente do governo da República, dificilmente integraria o Movimento Democrático Brasileiro. Porque esse maragogipano alto, moreno e corpulento, era personalista. Ele exerceu durante mais da metade da vida o controle da política municipal, razão pela qual germinou a família mais numerosa da cidade.

Juarez simbolizava a figura do coronel: protegia e oferecia sustento a aqueles que lhe juravam fidelidade ou lhe tinham consideração e respeito, apadrinhava casamentos, arranjava-lhes emprego e dinheiro, providenciava-lhes médicos e internações, batizava-lhes os filhos, dava-lhes refeições, impedia que a polícia os prendesse e se recolhidos à prisão fossem, providenciava-lhes a soltura. Esse chefe da política municipal durante a ditadura Vargas e os governos estaduais de Regis Pacheco e Antônio Balbino dava a impressão de ser em Maragogipe, além de prefeito, o advogado, o médico, o delegado, o escrivão ou o padre.

Ele transmitia a sensação de não ter vocação para ser mandado e sim para mandar, então seria difícil a sua presença no Movimento Democrático Brasileiro, que era uma legenda de idealistas que lutavam para expulsar do poder central os militares. Alguns membros dessa legenda, como o então deputado estadual Marcelo Duarte, filho do jurista Nestor Duarte, esforçava-se também para acabar com as velhas oligarquias inclusive com a que Juarez Guerreiro representou em Maragogipe, a qual não prosperou com a sua morte a despeito de ele haver deixado discípulos como Cid Seixas Fraga e Antomeu Brito Souza.

Para melhor compreensão deste texto, leia também o de Plínio Guedes.

Carlos Laranjeira é jornalista. Nascido em Maragogipe, reside em São Bernardo do Campo, SP.

Comentários

Top 5 da Semana

Uma Breve História de Maragojipe, por Osvaldo Sá

Obs.: Este blog é adepto da grafia Maragogipe com o grafema G, mas neste texto, preservamos o uso da escrita de Maragojipe com o grafema J defendida pelo autor. Uma Breve História de Maragojipe Por Osvaldo Sá A origem do município de Maragojipe, como a de tantos outros municípios do Recôncavo Baiano, remonta ao período do Brasil Colonial, durante o ciclo da cana-de-açúcar. Conta a tradição popular que a origem do município deveu-se à existência de uma tribo indígena denominada “Marag-gyp”, que se estabeleceu em meados do século XVI às margens do Rio Paraguaçu. Destemidos e inteligentes, mas adversos à vida nômade, esses indígenas dedicavam-se ao cultivo do solo, à pesca e a caça de subsistência, manejando com maestria o arco e flecha e também o tarayra (espécie de machado pesado feito de pau-ferro), com o qual eram capazes de decepar de um só golpe a cabeça do inimigo. Osvaldo Sá, 1952 - Aos 44 ano Segundo a tradição da tribo, os mais velhos contavam que suas pri...

Fotos antigas de São Félix, no Recôncavo da Bahia

Desde as primeiras décadas de sua existência a fotografia já mostrava o seu imenso potencial de uso. A produção fotográfica de unidades avulsas, de álbuns ou de coletâneas impressas abrangia um espectro ilimitado de atividades, especialmente urbanas, e que davam a medida da capacidade da fotografia em documentar eventos de natureza social ou individual, em instrumentalizar as áreas científicas, carentes de meios de acesso a fenômenos fora do alcance direto dos sentidos, as áreas administrativas, ávidas por otimizar funções organizativas e coercitivas, ou ainda em possibilitar a reprodução e divulgação maciça de qualquer tipologia de objetos. (leia mais em Fotografia e História: ensaio bibliográfico ) Neste sentido, a disponibilização de imagens fotográficas para o público leitor deste blog, é uma máxima que nós desejamos, pois a imagem revela muitos segredos.  Para ver mais fotografias: VISITE NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK Enchente em São Félix - cedido por Fabrício Gentil Navio da...

Prefeitos de Maragogipe, do final do Império à Atualidade

Durante os períodos de Colônia e Império, aos presidentes da Câmaras de Vereadores atribuíam se-lhes as disposições executivas. O plenário votava a matéria e o presidente executava a proposição aprovada. Dos presidentes da Câmara de Vereadores de Maragogipe, os que exerceram por mais vezes o cargo, foram o Pe. Inácio Aniceto de Sousa e Antônio Filipe de Melo. O primeiro, no meado do século XIX, eleito deputado à Assembléia Provincial, renunciou ao mandato, porque optou pelo de Vereador à Câmara de Maragogipe, e se elegeu presidente desta. Como Presidentes do Conselho Municipal Manuel Pereira Guedes      (1871 - 1874) Artur Rodrigues Seixas       (1875 - 1878) Antonio Filipe de Melo      (1879 - 1882) Dr. João Câncio de Alcântara (1883 - 1886) Silvano da Costa Pestana   (1887-1890) Com a República, cindiu-se o poder, adotando a corporação o nome de Conselho, e o executivo o de Intendente. Com este n...

Padres da Paróquia de São Bartolomeu de Maragogipe

A história de Maragogipe está ligada ao  culto de São Bartolomeu que data dos primórdios da sua vida, da época em que iniciava a sua formação, quando saía das trevas da vida selvagem para iniciar a sua marcha gloriosa na senda do progresso sob o signo o abençoado da Cruz Redentora. A devoção dos maragogipanos para com o Glorioso Apóstolo vem também dos seus primeiros dias, do tempo em que era ainda uma fazenda pertencente ao luso Bartolomeu Gato, e nela, encontramos o primeiro vigário da Paróquia de São Bartolomeu. A lista abaixo retrata um pouco desta história, as datas ao lado do nome é o ano de início de sua vida enquanto evangelizador. Todavia, em diversos nomes nós não encontramos a data específica, pois somente há deduções. Caso o leitor possa estar contribuindo com a mudança desta lista, pois ainda sim, acreditamos que esteja faltando alguns nomes, será muitíssimo interessante. Agradecemos antecipadamente. (Leia mais sobre " O Culto de São Bartolomeu ", escrito por Odi...

Sátira das Profissões, um documento egípcio que valoriza o escriba

Este é um trabalho de Pesquisa do Documento "Sátira das Profissões" escrito egípcios que contém incômodos existentes em cada tipo de trabalho, assim como a valorização do Escriba enquanto profissional. A leitura deste documento demonstra que a atividade intelectual era valorizada no Egito Antigo, muito diferente das atividades braçais que são classificadas de maneira grosseira pelo escritor do documento. O tema é curioso. É a história de um pai Khéti que conduz o filho adolescente Pépi para a escola de escribas da Corte por ser, segundo ele, a mais importante das profissões e durante a viagem da barca resolve comparar vários ofícios. Figura retirada do jogo Faraó, feito pela Sierra e sob licença da VU Games. Quais são as profissões do texto? As profissões descritas no texto são Ferreiro, Marceneiro, Joalheiro, Barbeiro, Colhedor de Papiro ou de Junco (que na verdade ele colhe o junco para daí fazer o papiro), Oleiro, Pedreiro, Carpinteiro, Hortelão, Lavrador, Tecelão, Por...