"Não há terra sem senhor nem senhor sem terra."
O período medieval foi um marco na história europeia que legou para a história mundial diversas relações econômicas, culturais, políticas, sociais e religiosas. É impossível deixar de falar na Idade Média na escola, pois o nosso cotidiano está marcado por usos e costumes do período como retratado no texto "Somos todos da Idade Média" de Hilário Franco Junior.
Com isso, iremos retratar através destes textos, dois momentos do período medieval com histórias contadas por quem viveu na época. O primeiro texto será de Adalberto, o Bispo de Laon escrito em plena Idade Média, descreve as três ordens ou estamentos da sociedade europeia centro-ocidental à época do apogeu do feudalismo: o clero, a nobreza e os camponeses. Leia:
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Iluminura que representa as três ordens medievais |
"A ordem eclesiástica forma um corpo só, mas a divisão da sociedade compreende três ordens. A lei humana distingue duas condições. O nobre e o não-livre não são governados por uma lei idêntica. Os nobres são os guerreiros, os protetores das igrejas. Defendem a todos os homens do povo, grandes e modestos, e também a si mesmos. A outra classe é a dos não-livres. Esta desgraçada raça nada possui sem sofrimento. Provisões, vestimentas são fornecidas para todos pelos não-livres, pois nenhum homem livre é capaz de viver sem eles.
Por tanto a cidade de Deus, que se crê única, está dividida em três ordens: uns rezam, outros combatem e outros trabalham. Estas três ordens vivem juntas e não suportam uma separação. Os serviços de um permitem os trabalhos dos outros dois. Cada um, alternativamente, presta seu apoio a todos."
ADALBERTO, bispo de Laon, na França, nos finais do século 10.
In: BOUTRUCHE, R. Señorio y Feudalismo. Madri: Sigilo Veintiuno, 1972.
O segundo texto tem datação aproximada de 1340, escrito por Francisco Balducci Pegolotti, que era um agente da família Bardis, banqueiros de Florença, que elaborou um manual para mercadores viajantes, demonstrando a existência de um comércio florescente. Neste documento, encontramos informações sobre o comércio com a China, entre elas a utilização de papel-moeda a importância de um dragomano (intérprete).
"Em primeiro lugar, deveis deixar a barba crescer e não vos barbeardes. E em Tana deveis contratar os serviços de um dragomano (intérprete). E não deveis tentar poupar dinheiro no que respeita a dragomanos escolhendo um mau em vez de um bom. Pois os honorários adicionais do bom não vos custarão tanto quanto poupareis por tê-lo. E além do dragomano será conveniente contratar pelo menos dois bons criados conhecedores da língua cumana. E se o mercardor gostar de levar uma mulher com ele de Tana, pode fazê-lo; se não gostar de levar, não será a tal obrigado, mas levando-a será tratado muito mais confortavelmente do que não a levando. Não obstante, se a levar, será conveniente que ela conheça a língua cumana, como os homens. [...]"
"Toda a quantidade de prata que os mercadores levarem com eles até Catai, o senhor de Catai lhes tirará e guardará no seu tesouro. E aos mercadores que assim levam prata dão aquele dinheiro de papel deles em troca. Este é de papel amarelo, com o selo do senhor atrás mencionado. E chama-se dinheiro; e com este dinheiro podeis comprar sem dificuldade seda e outra mercadoria que tiverdes desejo de comprar. E todas as pessoas do país são obrigadas a recebê-lo. E não pagareis um preço mais elevado pelas vossas mercadorias por o vosso dinheiro ser de papel. [...]"
"(E não esqueçais que se tratardes os funcionários de casa da alfândega com respeito e lhes oferecerdes um presente qualquer em mercadorias ou dinheiro, assim como aos seus empregados e dragomanos, eles se comportarão com grande civilidade e estarão sempre dispostos a avaliar os vossos produtos abaixo do seu valor real.)"
PEGOLOTTI, Francisco Baldussi. IN: BOORSTIN, Daniel J. Os descobridores: de como o homem procurou conhecer-se a si mesmo e ao mundo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989. p.137.
Um site interessante em que você poderá visualizar vários documentos antigos e medievais é Idade Média, mantido por Ricardo Costa.
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