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Diretora-geral da Unesco defende nova forma de contar a história da África


Desde setembro de 2009, cabe à búlgara Irina Georgieva Bokova a tarefa de conciliar diferentes interesses e visões sobre ciência, cultura e educação. Primeira mulher e primeira pessoa nascida na Europa Oriental a ocupar o cargo de diretora-geral da Unesco, organização ligada às Nações Unidas que agrega 195 países-membros, ela comandará as ações da Década para as Pessoas de Ascendência Africana, declarada pela ONU entre 2013 e 2022.

Às vésperas do início da celebração, Irina falou com exclusividade ao CorreioBraziliense. Segundo ela, a trágica experiência da escravidão fez com que o continente africano fosse o primeiro a experimentar um processo de globalização e moldou preconceitos e sentimentos depreciativos que ainda subjugam os negros. “Apesar de o comércio de escravos e a escravidão já não serem tolerados, alguns conceitos produzidos por esse sistema estão, hoje, infelizmente, ainda vivos. Por essa razão, a luta contra o racismo e contra a discriminação em muitas regiões do mundo continua a ser um enorme desafio”, diz.

Casada e com dois filhos, Irina, que militou no Partido Comunista de seu país, foi deputada federal, membro do Comitê de Integração da Europa e embaixadora em Mônaco e na França. Há três anos, ocupa a cadeira deixada pelo japonês Koichiro Matsuura na Unesco. Ela, agora, pretende ampliar a importância que o mundo dá à história africana, mudando o enfoque colonialista que costuma receber. “Gostaria de felicitar o governo do Brasil por tornar o ensino de história da África obrigatória em todos os níveis de ensino”, ressalta. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Apenas 86 dos 962 sítios do Patrimônio Mundial estão localizados na África, enquanto a Europa acolhe sozinha quase 50% desses locais reconhecidos como de especial valor. Essa não seria uma distorção na própria instituição que deveria trabalhar para a promoção da diversidade cultural?
É verdade que dos 962 sítios do Patrimônio Mundial apenas 9% estão localizados na África sub-saariana. Acredito que estamos fazendo tudo o que podemos fazer para atingir um maior equilíbrio. No entanto, devo salientar que a decisão de nomear locais cabe inteiramente aos Estados-parte. Muitos governos africanos simplesmente não têm recursos humanos e financeiros para realizar o longo e complexo processo de preparação do dossiê de candidatura. A Unesco está empenhada em apoiá-los nesse processo. Inscrever um lugar na lista do Patrimônio Mundial traz grandes ganhos em termos de aumento de orgulho nacional, de identidade e também de bem-estar social das comunidades locais. Estamos fazendo progressos. Desde 2002, mais oito países africanos ratificaram a Convenção do Patrimônio Mundial.

A Unesco tem, portanto, um papel institucional a cumprir nessa questão.
A Unesco tem uma posição clara e forte: a proteção e a promoção da cultura africana é importante para todas as sociedades, mas também pode servir como um motor para o desenvolvimento sustentável. Desde meados dos anos 1990, numerosas iniciativas de capacitação foram lançadas no campo de Patrimônio Mundial. O nosso objetivo é atingir uma representação mais equilibrada global, incluindo a África, por meio da identificação de novas categorias de sítios e treinamento de profissionais africanos na área do Patrimônio Mundial.

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