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Relatos da experiência de uma vida de 15 anos de ensino, por Zevaldo Sousa

Hoje, dia 15 de outubro de 2011, resolvi fazer textos de referência a minha verdadeira profissão. Uma profissão que foi forçada em minha vida, mas que por motivos de ética e de respeito, exerço-a com todo amor e devoção. Continuo aprendendo a cada dia que passa, a amar a História, disciplina que faz parte da minha vida, desde esse dia em que você está lendo este texto, até o início daquilo que chamamos por Humanidade. Não estou escrevendo ao contrário, escrevo na direção correta, pois nenhum ser humano é fruto de sua contemporaneidade, mas sim do seu passado e esse é longínquo.

Tem 30 anos de idade e 15 anos de ensino, posso sem sombras de dúvidas dizer que já ensinei em todo e qualquer tipo de instituição, desde a escolar particular, o cursinho pré-vestibular pago e gratuito, a escola pública municipal e estadual, assim como no ensino fundamental I e II e médio, só não ensinei nas escolas federais, mas acredito que esse não será grande problema, pois o que estou propondo escrever está nas nossas bases e essa eu conheço muito bem.

Nas minhas aulas, gosto sempre de citar que todos vivemos do passado e nós somos museus vivos, pois a cada segundo que se passou, interagimos com objetos que não foram criados por nós, mas por alguém, no passado e, se analisarmos bem até as nossas criações estão no passado. A história, portanto, está presente em nossa vida, e nós precisamos conhecê-la, mas o fato que mais marca na educação é que a nossa identidade não é esboçada, nem tampouco tratada nos bancos escolares e, o que percebo é que grande parte dos professores não tem a mínima vontade de aprender novidades, nem tampouco de sair da sua própria rotina. Isso vale para todas as disciplinas e não só para o ensino de História.

Percebe-se, portanto, que na educação brasileira existem vários problemas, e eu gostaria de tratar sobre cinco grandes problemas:  O Cultural, o Social, o Político Pedagógico, o Estrutural e de Valorização da Educação. Todas essas situações se encaixam perfeitamente no maior problema de todos que é político e este terá como referência o retorno a longo prazo, e por esse motivo, nenhum mandatário deseja investir na educação como deveria, pois eles precisam de resultados para as próximas eleições, então negligenciam a educação para investirem em obras que darão visibilidade imediata, ou quando fazem um projeto para a educação, é algo mirabolante, que enche os olhos, mas não dá resultado. Nas últimas décadas, o governo criou diversos mecanismos que deram um novo sentido ao papel do Coordenador - que na maioria das vezes é um agente político infiltrado dentro da escola, servindo muito mais como dedo-duro do que como coordenador -, como exemplos cito a progressão continuada, os ciclos, a avaliação contínua, a recuperação paralela, que sem sombras de dúvidas deram um novo sentido ao conceito de escola, mas não trouxe grandes resultados. Enquanto isso, a educação continua sendo desvalorizada e com ela o professor continua sendo idem, e continua tendo que lidar com pessoas (alunos) que não entendem ou não querem entender o sentido de se educar.

Outros problemas são uma constante nas nossas vidas, os livros didáticos são exemplos e como a maioria das pessoas não valorizam os livros, nossos filhos fazem o mesmo. 

Temos também na nossa educação, professores não capacitados para exercer tal profissão, assim como também temos professores capacitados em uma área, exercendo sua profissão em outra área. E tudo isso está envolvido principalmente, com a política municipal. Por esse motivo, a classe fica desvalorizada, e o político tem a desculpa em dizer que não investirá em educação se não se tem profissionais capacitados, gabaritados na área e sobretudo, se não temos uma sociedade que faça a cobrança e que se posicione. Calados ficamos e por esse motivo, os nossos representantes fazem o que querem.

Nas escolas da rede pública de educação básica, faltam bibliotecas, laboratórios de ciência e de informática, falta constantemente merenda escolar e transporte. A ausência de recursos didáticos é outro paradigma e isso dificulta o aprendizado, acontecendo a decadência da escolaridade. Sendo assim, o cidadão acaba dizendo que a escola pública não presta. Com toda certeza, é frequente o descaso com o ensino público e por esse motivo, não há esperança, não há mudança.

Além de tudo isso, o problema ainda surge dentro da própria família, fazendo com que crianças e adolescentes não tenham vontade em aprender. É com essa temática que exercitaremos nosso debate na próxima postagem.

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