Pular para o conteúdo principal

Sítio arqueológico encontrado em Enseada do Paraguaçu e os povos Aratus

Por: Zevaldo Luiz Rodrigues de Sousa
Professor de História licenciado pela UFRB

Depois de comprar as fazendas do Gurjão Dendê, Gurjão e Cruzeiro (parte das terras), por uma considerável quantia (um dos terrenos chegou a custar 4 milhões para os cofres do Consórcio), materiais arqueológicos foram e ainda estão sendo encontrados no distrito de São Roque do Paraguaçu, mais precisamente, em Enseada do Paraguaçu, nestes mesmos terrenos que foram comprados. O Consórcio que teve uma das maiores contrapartidas para a sociedade, já percebe o quão cultural é nossa terra e reconhece auxiliando no resgate dos vestígios já estão sendo executados, como forma de salvaguardar os achados. Contudo, o Consórcio não pode fazer tudo, cabe agora ao governo fazer sua parte, pois já existe a hipótese desses achados serem colocados em um museu. Mas onde? Ninguém sabe por enquanto.

O que são vestígios arqueológicos?
O objetivo da arqueologia é estudar o Homem e sua cultura, através de métodos eficientes de datação e de uma pesquisa rigorosa e comparativa, a partir dos vestígios materias deixados por seres humanos em diversos locais do planeta. É através desses estudos que, por exemplo, foi criada a tese da provável rota de entrada de seres humanos no continente americano, pelo Estreito de Bering, há quase 12 mil anos atrás, e que esses primeiros seres eram negróides. Contudo, devido aos poucos vestígios encontrados, pouco se tem de concreto, apenas sabemos que eram povos caçadores-coletores e que enter-ravam seus mortos em cavernas.

Com o tempo, e as diversas migrações, esses povos adaptaram-se ao meio ambiente que chegaram e assumiram, de acordo com os diversos grupos e região, uma diversidade cultural complexa e diferenciada.
Os sítos arqueológicos nos dão a oportunidade, portanto, de conhecer um pouco dessa prática cultural, pois neles encontramos restos ou vestígios da atividade humana (moradia, acam-pamentos, cemitérios, etc..). Sua importân-cia é extremamente grande, pois esses ves-tígios nos trazem dados científicos (origens, utilização de material molecular/genético de plantas antigas contra pragas); culturais (po-dendo serem transformados em museus e/ou servindo como instrumento educativo) e econômicos, neste caso, também serve para o turismo.

Os sítios arqueológicos mais importantes do Brasil são: os Sambaquis de Santa Catarina (SC), Lagoa Santa (MG), Serra da Capivara (PI), Xingó (SE), Central (BA)

O sítio de Enseada do Paraguaçu e os povos Aratus
No síto de Enseada do Paraguaçu foram encontrados vestígios dos períodos: Pré-colonias e coloniais. O primeiro período nos mostra uma identidade cultural de povos caçadores-coletores com seus artefatos comuns, pilões que serviam para moer grãos e outros materiais. De todo o material encontrado, uma urna funerária ganha destaque, pois nos comprova que os povo Aratus, como foram denominaodos pela equipe arqueológica, enterravam seus mortos em vasos cerâmicos.

No segundo período histórico, foram encontrados brasões portugueses, moedas e diversos outros materiais que comprovam a fixação, pelo menos temporária, de portugueses no local.

Como estão sendo feito os estudos?
Neste momento, a pesquisa está na fase inicial, através de levantamento, prospecção e sondagens, um trabalho muito cuidadoso e rigoroso. Todo esse material está sendo levando para o Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UNEB, em Senhor do Bonfim para ser analisado. Enquanto isso, a equipe de pesquisa orienta os alunos de Enseada do Paraguaçu sobre a importância do patrimônio encontrado.

A execução da pesquisa está sendo feita pela CONSULTARQ - HAS Consultora Arqueológica e Pesquisa Ltda, através de licença do IPHAN nº 01502001018/2010-11, e tem como objetivo realizar escavações nos sítios arqueológicos na área de influência do Projeto Estaleiro do Paraguaçu; efetuar o estudo científico das ocupações históricas e pré-históricas da área; identificar os paleoambientes (climas e vegetação durante a pré-história) e realizar atividades de educação patrimonial.

Musealização
Com essa descoberta, reforça-se a importância de um museu em Maragogipe. Cabe lembrar neste momento, do lançamento do projeto de reforma e implantação do museu Naútico no prédio Alexandre Alves Teixeira, o Mercado da Farinha, no Cajá que, inclusive, contou com a participação do Ministro da Cultura Gilberto Gil. Não é somente esses vestígios que serão encontrados, mas também diversos saveiros, e uma rica história do município e regiões circunvizinhas que precisam ser preservadas e esta preservação não tem destino certo. Nós não temos um museu, este foi para o espaço. Nossa rica cultura tem um passado longínquo e precisa de resgate URGENTE. Nossos filhos e netos merecem saber e reconhecer a importância da nossa cultura, para com isso, preservarem o que é seu, o que é de todos nós.

Comentários

Top 5 da Semana

Uma Breve História de Maragojipe, por Osvaldo Sá

Obs.: Este blog é adepto da grafia Maragogipe com o grafema G, mas neste texto, preservamos o uso da escrita de Maragojipe com o grafema J defendida pelo autor. Uma Breve História de Maragojipe Por Osvaldo Sá A origem do município de Maragojipe, como a de tantos outros municípios do Recôncavo Baiano, remonta ao período do Brasil Colonial, durante o ciclo da cana-de-açúcar. Conta a tradição popular que a origem do município deveu-se à existência de uma tribo indígena denominada “Marag-gyp”, que se estabeleceu em meados do século XVI às margens do Rio Paraguaçu. Destemidos e inteligentes, mas adversos à vida nômade, esses indígenas dedicavam-se ao cultivo do solo, à pesca e a caça de subsistência, manejando com maestria o arco e flecha e também o tarayra (espécie de machado pesado feito de pau-ferro), com o qual eram capazes de decepar de um só golpe a cabeça do inimigo. Osvaldo Sá, 1952 - Aos 44 ano Segundo a tradição da tribo, os mais velhos contavam que suas pri...

Fotos antigas de São Félix, no Recôncavo da Bahia

Desde as primeiras décadas de sua existência a fotografia já mostrava o seu imenso potencial de uso. A produção fotográfica de unidades avulsas, de álbuns ou de coletâneas impressas abrangia um espectro ilimitado de atividades, especialmente urbanas, e que davam a medida da capacidade da fotografia em documentar eventos de natureza social ou individual, em instrumentalizar as áreas científicas, carentes de meios de acesso a fenômenos fora do alcance direto dos sentidos, as áreas administrativas, ávidas por otimizar funções organizativas e coercitivas, ou ainda em possibilitar a reprodução e divulgação maciça de qualquer tipologia de objetos. (leia mais em Fotografia e História: ensaio bibliográfico ) Neste sentido, a disponibilização de imagens fotográficas para o público leitor deste blog, é uma máxima que nós desejamos, pois a imagem revela muitos segredos.  Para ver mais fotografias: VISITE NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK Enchente em São Félix - cedido por Fabrício Gentil Navio da...

Prefeitos de Maragogipe, do final do Império à Atualidade

Durante os períodos de Colônia e Império, aos presidentes da Câmaras de Vereadores atribuíam se-lhes as disposições executivas. O plenário votava a matéria e o presidente executava a proposição aprovada. Dos presidentes da Câmara de Vereadores de Maragogipe, os que exerceram por mais vezes o cargo, foram o Pe. Inácio Aniceto de Sousa e Antônio Filipe de Melo. O primeiro, no meado do século XIX, eleito deputado à Assembléia Provincial, renunciou ao mandato, porque optou pelo de Vereador à Câmara de Maragogipe, e se elegeu presidente desta. Como Presidentes do Conselho Municipal Manuel Pereira Guedes      (1871 - 1874) Artur Rodrigues Seixas       (1875 - 1878) Antonio Filipe de Melo      (1879 - 1882) Dr. João Câncio de Alcântara (1883 - 1886) Silvano da Costa Pestana   (1887-1890) Com a República, cindiu-se o poder, adotando a corporação o nome de Conselho, e o executivo o de Intendente. Com este n...

Padres da Paróquia de São Bartolomeu de Maragogipe

A história de Maragogipe está ligada ao  culto de São Bartolomeu que data dos primórdios da sua vida, da época em que iniciava a sua formação, quando saía das trevas da vida selvagem para iniciar a sua marcha gloriosa na senda do progresso sob o signo o abençoado da Cruz Redentora. A devoção dos maragogipanos para com o Glorioso Apóstolo vem também dos seus primeiros dias, do tempo em que era ainda uma fazenda pertencente ao luso Bartolomeu Gato, e nela, encontramos o primeiro vigário da Paróquia de São Bartolomeu. A lista abaixo retrata um pouco desta história, as datas ao lado do nome é o ano de início de sua vida enquanto evangelizador. Todavia, em diversos nomes nós não encontramos a data específica, pois somente há deduções. Caso o leitor possa estar contribuindo com a mudança desta lista, pois ainda sim, acreditamos que esteja faltando alguns nomes, será muitíssimo interessante. Agradecemos antecipadamente. (Leia mais sobre " O Culto de São Bartolomeu ", escrito por Odi...

Sátira das Profissões, um documento egípcio que valoriza o escriba

Este é um trabalho de Pesquisa do Documento "Sátira das Profissões" escrito egípcios que contém incômodos existentes em cada tipo de trabalho, assim como a valorização do Escriba enquanto profissional. A leitura deste documento demonstra que a atividade intelectual era valorizada no Egito Antigo, muito diferente das atividades braçais que são classificadas de maneira grosseira pelo escritor do documento. O tema é curioso. É a história de um pai Khéti que conduz o filho adolescente Pépi para a escola de escribas da Corte por ser, segundo ele, a mais importante das profissões e durante a viagem da barca resolve comparar vários ofícios. Figura retirada do jogo Faraó, feito pela Sierra e sob licença da VU Games. Quais são as profissões do texto? As profissões descritas no texto são Ferreiro, Marceneiro, Joalheiro, Barbeiro, Colhedor de Papiro ou de Junco (que na verdade ele colhe o junco para daí fazer o papiro), Oleiro, Pedreiro, Carpinteiro, Hortelão, Lavrador, Tecelão, Por...