Antes de começar a escrever sobre o tema de hoje, gostaria de perguntar o que é o marco zero? A resposta é simples: É o ponto inicial, onde tudo começou. Várias cidades do Brasil e do Mundo, depois de uma pesquisa histórica rigorosa, muitos debates, ou mesmo até, através de imposições, determinaram o marco-zero de sua cidade com construções, principalmente, estátuas de um grande personagem que marcou a história da cidade. Mas, isso não é uma regra geral, tem cidade que prefere construir uma praça, tem cidade que não constrói nada, na verdade, não há necessidade de se ter um marco zero materializado. Todavia, há necessidade de se conhecer, entender o porquê e quem sabe definirmos um local, mesmo sabendo que é impossível determiná-lo exatamente. Essa será nossa atividade, este será o tema deste artigo.
É muito comum vim nos livros didáticos de História, Geografia ou até mesmo Física, perguntas referentes ao marco-zero de uma cidade. Normalmente, eles pedem que o aluno faça um comparativo, escrevam sobre algo ou calcule a distância em relação a sua casa, os pedidos são variados e neste caso, quando os professores maragogipanos vão falar sobre, acabam sem saber onde fica o marco zero. Como então fazer a atividade? Bem, ao lermos livros que falam sobre a cidade, ao estudarmos as construções e ao percebermos o alinhamento das ruas, percebemos que existe um lugar, que pode ser determinado como marco-zero. Então, onde fica esse lugar?
Conta a História que habitavam nestas plagas índios da tribo marag-gyp, guerreiros, dedicavam-se ao cultivo do solo, à pesca e à caça. Por volta de 1520, exploradores portugueses chegaram até o Rio Paraguaçu e subiram o rio Cachoeirinha, no atual distrito do Guaí, às margens dos quais habitavam os índigenas. Esses portugueses ficaram vislumbrados com a riqueza das matas e como a acessibilidade que o rio proporcionava a qualquer embarcação, essa é uma questão muito importante na determinação de um marco, pois, é a condição necessária para que os primeiros habitantes europeus desta terra tivessem acesso a outros locais. Nos primórdios não se tinha carro e os animais de transporte não eram abundantes a ponto de se dispor uma tropa. Sendo assim, alguns exploradores resolveram ficar e explorar essa bela região. Isso não significa que o marco-zero possa estar sendo determinado perto do Rio Cachoeirinha, por um simples motivo, a fixação, ainda era exploratória e com isso, não tinha como determinação principal a criação de uma vila, essa só veio depois da descoberta de um rio límpido e perene, por Bartolomeu Gato, que fora chamado de rio Igacaçu, nome que será dado a vila que aqui começava a se formar e hoje, rio Quelembe ou comumente chamado pela população de Rio do Urubu.
Mas como isso veio a acontecer? Devemos estar pensando que essas as terras atuais do município, descoberta por Bartolomeu Gato, estavam inclusas no território da Capitania do Paraguaçu (ou Peroaçu). Terras estas que já estavam em posse de D. Álvaro desde 16.01.1557, celebrando no mês seguinte, quando este recebeu sesmaria do governador D. Duarte da Costa, que era seu pai. Depois de uma desavença com o Bispo Sardinha, que havia partido para a Metrópole com objetivo de queixar-se da "impetuosa galinice do donatário do peroaçu, que mais tarde passaria a chamar-se Paraguaçu" (SÁ, Osvaldo, p. 11, 1981) ao rei de Portugal. Não sendo "venturoso o Bispo legal, e a pique o seu barco, serviu ele de banquete a ameríndio, aos próprios que ele defendia ou pretendia defender perante S. Majestade." (SÁ, Osvaldo, p. 11-2, 1981). Somente em 12 de março de 1562 que D. Álvaro da Costa obteve a confirmação das terras doadas e em 17 de novembro daquele mesmo ano fez de Fernão Vaz da Costa e Vasco Rodrigues Caldas seus procuradores. Outras histórias surgirão, vale ressaltar que quando estas terras estavam nas mãos de D. Álvaro da Costa, muitos lusos fidalgos e endinheirados, vieram para cá, buscar melhorias e dobrar seus vinténs.
Foi assim que Bartolomeu Gato surgiu por essas terras e nas imediações do rio por ele descoberto, "começou a nascer uma povoação que usava a água pura do rio para beber, cozinhar e lavar. Assim, na "Rua do Rio", a primeira povoação, nascia o núcleo original da cidade de Maragogipe." (IPAC-Ba, p. 10, 1984). Aqui sim, poderemos determinar um marco-zero. Mas em que parte da "Rua do Rio" podemos estabelecer o marco-zero da cidade? A "Rua do Rio" é composta por duas ruas que seguem o Rio Quelembe ou do Urubu, que é a Rua Manoel Oliveira Lopes (que fica depois da descida da ladeira da entrada da cidade) e a Rua Siqueira Campos (onde ficava a Sede do Vasco). Nestas ruas surgiram as primeiras casas da cidade, mas mesmo assim, ainda não temos como determinar um ponto central, devido a geografia atual. Sabemos que o rio Quelembe, tinha um fluxo muito maior que nos dias atuais, pois neste tempo não se tinha a central de tratamento de água da Embasa, que intercepta quase a água por completo enviando para as residências deixando passar somente um fio de água. Sendo assim, não podemos estar pensando sobre um rio que quase não existe, quando adentra na cidade atualmente, sendo preenchido pelas águas da maré. Naquele tempo, o rio era maior e mais largo, possibilitando acesso a água com muito mais facilidade pelos moradores. Essa região tornou-se rapidamente um centro residencial e comercial e tinha como seu porto principal aquele que fica perto do Beco da Chandu, onde hoje fica a Praça Dois de Julho e o Mercado do Iguatemi, naquela ponte, que chamamos de Ponte das Palmeiras, ficava o principal e único porto da pequena vila de casas de taipa e palha, chamada de "Igacaçu, como se vê no mapa quinhentista da imponente baía de Todos os Santos e reentrâncias suas" (SÁ, Osvaldo, 23, 1981), que futuramente será chamado de porto pequeno. Era este porto a entrada e saida da vila que aqui estava surgindo, não existia estradas, a mata era fechada, pouquíssimas pessoas moravam aqui e basicamente viviam por se defender dos ataques indígenas, que nesta região habitavam.
Sendo assim, a rua hoje chamada "Siqueira Campos" foi o núcleo central da vila que aqui estava se formando, por ser muito mais próxima do porto; e por ter água límpida; por ser um ponto menos vulnerável a ataques dos selvagens, já que a região de Capanema tinha tribos muito valentes; por ser ponto mais próximo da saída do rio Paraguaçu e por ter o manguezal como proteção a possíveis ataques de franceses, principais "invasores" dessa região.
Com relação à Rua Manoel Oliveira Lopes, podemos dizer que seria inviável construir alguma casa nela, por vários motivos, citaremos dois: Primeiro, os habitantes teriam que atravessar um rio que era muito mais forte do que o atual, para poder chegar ao porto; e segundo naquele tempo não existia estrada, então, não havia necessidade de se ter nenhuma construção do outro lado do rio.
Seria interessante que o governo, construísse uma estátua, quem sabe até, do próprio Bartolomeu Gato, perto da ponte que atravessa o rio Quelembe, seguindo em direção ao alto do Japão, determinando um marco-zero. Quem sabe assim, crianças, jovens e pessoas que nesta terra não habitam possam estar conhecendo um pouco da nossa bela história, que é marcada por muitas lutas e desbravamentos e que atualmente está encoberta pelas inoperâncias burocráticas. É preciso que professores de história do Município se unam em prol dessa história e comecem a discutir sobre questões relativas ao nosso passado, transformando esse conhecimento em objeto presente. Ensinando-o nas escolas e mostrando a todos o quê que Maragogipe tem?
Como já disse, não há necessidade de determinarmos o local exato, até porque isso não é possível, mas o conhecimento é extremamente importante para descobrirmos quem realmente somos e de onde viemos.
Bibliografia
SÁ, Osvaldo; "Histórias Menores", vol 1, 1981.
IPAC; Maragogipe - "Uma proposta de ação", Salvador, 1984
Mas como isso veio a acontecer? Devemos estar pensando que essas as terras atuais do município, descoberta por Bartolomeu Gato, estavam inclusas no território da Capitania do Paraguaçu (ou Peroaçu). Terras estas que já estavam em posse de D. Álvaro desde 16.01.1557, celebrando no mês seguinte, quando este recebeu sesmaria do governador D. Duarte da Costa, que era seu pai. Depois de uma desavença com o Bispo Sardinha, que havia partido para a Metrópole com objetivo de queixar-se da "impetuosa galinice do donatário do peroaçu, que mais tarde passaria a chamar-se Paraguaçu" (SÁ, Osvaldo, p. 11, 1981) ao rei de Portugal. Não sendo "venturoso o Bispo legal, e a pique o seu barco, serviu ele de banquete a ameríndio, aos próprios que ele defendia ou pretendia defender perante S. Majestade." (SÁ, Osvaldo, p. 11-2, 1981). Somente em 12 de março de 1562 que D. Álvaro da Costa obteve a confirmação das terras doadas e em 17 de novembro daquele mesmo ano fez de Fernão Vaz da Costa e Vasco Rodrigues Caldas seus procuradores. Outras histórias surgirão, vale ressaltar que quando estas terras estavam nas mãos de D. Álvaro da Costa, muitos lusos fidalgos e endinheirados, vieram para cá, buscar melhorias e dobrar seus vinténs.
Foi assim que Bartolomeu Gato surgiu por essas terras e nas imediações do rio por ele descoberto, "começou a nascer uma povoação que usava a água pura do rio para beber, cozinhar e lavar. Assim, na "Rua do Rio", a primeira povoação, nascia o núcleo original da cidade de Maragogipe." (IPAC-Ba, p. 10, 1984). Aqui sim, poderemos determinar um marco-zero. Mas em que parte da "Rua do Rio" podemos estabelecer o marco-zero da cidade? A "Rua do Rio" é composta por duas ruas que seguem o Rio Quelembe ou do Urubu, que é a Rua Manoel Oliveira Lopes (que fica depois da descida da ladeira da entrada da cidade) e a Rua Siqueira Campos (onde ficava a Sede do Vasco). Nestas ruas surgiram as primeiras casas da cidade, mas mesmo assim, ainda não temos como determinar um ponto central, devido a geografia atual. Sabemos que o rio Quelembe, tinha um fluxo muito maior que nos dias atuais, pois neste tempo não se tinha a central de tratamento de água da Embasa, que intercepta quase a água por completo enviando para as residências deixando passar somente um fio de água. Sendo assim, não podemos estar pensando sobre um rio que quase não existe, quando adentra na cidade atualmente, sendo preenchido pelas águas da maré. Naquele tempo, o rio era maior e mais largo, possibilitando acesso a água com muito mais facilidade pelos moradores. Essa região tornou-se rapidamente um centro residencial e comercial e tinha como seu porto principal aquele que fica perto do Beco da Chandu, onde hoje fica a Praça Dois de Julho e o Mercado do Iguatemi, naquela ponte, que chamamos de Ponte das Palmeiras, ficava o principal e único porto da pequena vila de casas de taipa e palha, chamada de "Igacaçu, como se vê no mapa quinhentista da imponente baía de Todos os Santos e reentrâncias suas" (SÁ, Osvaldo, 23, 1981), que futuramente será chamado de porto pequeno. Era este porto a entrada e saida da vila que aqui estava surgindo, não existia estradas, a mata era fechada, pouquíssimas pessoas moravam aqui e basicamente viviam por se defender dos ataques indígenas, que nesta região habitavam.
Parte da região onde foram constrídas as primeiras casas. |
Sendo assim, a rua hoje chamada "Siqueira Campos" foi o núcleo central da vila que aqui estava se formando, por ser muito mais próxima do porto; e por ter água límpida; por ser um ponto menos vulnerável a ataques dos selvagens, já que a região de Capanema tinha tribos muito valentes; por ser ponto mais próximo da saída do rio Paraguaçu e por ter o manguezal como proteção a possíveis ataques de franceses, principais "invasores" dessa região.
Com relação à Rua Manoel Oliveira Lopes, podemos dizer que seria inviável construir alguma casa nela, por vários motivos, citaremos dois: Primeiro, os habitantes teriam que atravessar um rio que era muito mais forte do que o atual, para poder chegar ao porto; e segundo naquele tempo não existia estrada, então, não havia necessidade de se ter nenhuma construção do outro lado do rio.
Ao final desta ponte, poderia ficar um estátua que determinasse o marco-zero da cidade. |
Seria interessante que o governo, construísse uma estátua, quem sabe até, do próprio Bartolomeu Gato, perto da ponte que atravessa o rio Quelembe, seguindo em direção ao alto do Japão, determinando um marco-zero. Quem sabe assim, crianças, jovens e pessoas que nesta terra não habitam possam estar conhecendo um pouco da nossa bela história, que é marcada por muitas lutas e desbravamentos e que atualmente está encoberta pelas inoperâncias burocráticas. É preciso que professores de história do Município se unam em prol dessa história e comecem a discutir sobre questões relativas ao nosso passado, transformando esse conhecimento em objeto presente. Ensinando-o nas escolas e mostrando a todos o quê que Maragogipe tem?
Como já disse, não há necessidade de determinarmos o local exato, até porque isso não é possível, mas o conhecimento é extremamente importante para descobrirmos quem realmente somos e de onde viemos.
Bibliografia
SÁ, Osvaldo; "Histórias Menores", vol 1, 1981.
IPAC; Maragogipe - "Uma proposta de ação", Salvador, 1984
Olá amigos
ResponderExcluirComo posso conseguir exemplares dos livros do Professor Osvaldo Sá.Estou muito interessado,pois, pretendo iniciar uma pesquisa e preciso desse suporte bibliográfico.
Grande Abraço
Herson
Olá Zevaldo, muito interessante seu blog! Não sou nascido em Maragogipe, mas minha família inteira é da zona rural deste município, Carobas. Sou professor de História e trabalho no município, atualmente estou afastado para o mestrado e faço minha pesquisa sobre a Irmandade de São Bartolomeu. Estou impressionado com a riqueza da História de Maragogipe! é uma porção importante da história da Bahia que precisa vir a tona! Gostaria muito de trocar informações com você visto sua dedicação e preocupação com a história dessa terra. Abração e parabéns!
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