Pular para o conteúdo principal

Um pouco da História da Filarmônica "Dois de Julho"


Por Zevaldo Luiz Rodrigues de Sousa
Professor de História - Formado pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Data de Publicação: 07 de setembro de 2010

Uma das principais filarmônicas da cidade, a “Filarmônica Dois de Julho” é fruto do desejo de músicos instrumentistas das antigas filarmônicas e recreativas que existiam nesta cidade, antes da sua fundação em 7 de setembro de 1886.

A “Mnemósine” foi a primeira filarmônica existente no município, mas não durou muito, extinguindo-se em menos de uma década. Desta surgiram três instituições: Como os seus músicos eram dignos de assim serem chamados, fundaram a “Filarmônica Terpsícore Popular”, a “Sociedade Musical Euterpe” e em 1886, a “Recreativa 2 de Julho”, esta última somente com o propósito de ensinar danças à juventude.

Todavia, os associados da “Sociedade Musical Euterpe” entraram em divergências por motivos não encontrados nos documentos, dissolvendo-se, muito mais rápido do que a sua entidade materna, a “Mnemósine”. Um novo processo de união foi pensado, refletido e posto em prática. Músicos da já extinta “Sociedade Musical Euterpe” unem-se à “Recreativa 2 de Julho, fundando a então conhecida por todos como “Filarmônica 2 de Julho” elegendo presidente Absalão Gonçalves dos Santos. Hoje a instituição musical está em processo de transição para começar a ser chamada de “Sociedade Filantrópica e Recreativa Filarmônica e Sinfônica 02 de Julho”.

Segundo Osvaldo Sá, a instituição do pavilhão verde e amarelo, passou a funcionar em um prédio alugado na “rua de Santana, com ângulo para a rua do Fogo e fachada para o nascente.”, esta rua depois seria chamada de Barão de Rio Branco e atualmente é conhecida como D. Macedo Costa. O prédio pertencia a Absalão Gonçalves dos Santos e foi adquirido pela Suerdieck S/A e demolido. Só para se ter uma idéia, ela ficava ao lado do atual prédio de grades de ferro que funciona atualmente a Secretaria de Finanças de Maragogipe. O atual prédio foi adquirido em 1897, já sob presidência de Bento José Malaquias. Contudo, as reformas desejadas e às características projetadas por Salomão da Silveira, só vieram a acontecer muito depois e em 27 de maio de 1951 foi inaugurado, com muita festa, o “Palacete 2 de Julho”.

A escolha do nome “2 de Julho” e das cores “verde e amarelo”, segundo Ronaldo Souza, são marcas necessárias da luta ainda viva do povo baiano para eliminação das reminiscências portuguesas. O fato de ter sido fundada em 7 de setembro de 1886, é motivo para que nós, baianos, lembremos sempre que a data correta da nossa independência é o “2 de Julho”, por isto, esta instituição não nos lega somente um aparato de notas musicais, mas também um sentimento verdadeiro tipicamente baiano de luta e preservação da nossa história.

Como todo maragogipano que se preze, no autêntico sentido da democracia, o partidarismo e as rivalidades se sobressai até nas notas musicais, mas afinal quem dá as melhores notas? Uns, maragogipanos, principalmente àqueles que moravam na Enseada, no início do século XIX e em meados do mesmo século, no bairro do Cajá, adoravam a notas da “Filarmônica 2 de Julho” e quando esta passava pela avenida, era uma festa só. Outros, com especial apreço dos habitantes do Porto Grande, já preferiam às notas da “Terpsícore Popular”. Posso garantir, que as melhores notas são dadas pelos maragogipanos que nestas duas instituições se deliciam com apreço à arte musical, e com toda certeza, quem ganha é a nossa Maragogipe.

Na história da “Filarmônica 2 de Julho”, não pode ser separada da “Terpsícore Popular” devidos aos múltiplos encontros e desencontros. Nos dois casos, logo no início do século XIX, quando às filarmônicas saiam pelas noites, apresentando-se de porta-em-porta, seja com as pessoas nas em pé na porta de suas casas ou de bruços nas janelas, traziam consigo momentos de alegria e entretenimento, pois naqueles dias, não se tinha outro tipo de diversão, nem muito menos televisão, apenas conversas paralelas à velocidade da luz dos candeeiros em punho, marcando com isso, um dos “F”s da nossa sociedade. Ao fim das apresentações, palmas e gritos de vivas eram a mais singela e humilde forma de agradecimento que a pessoas poderiam dar, visto que detinham pouquíssimas formas de agradecer devido seu baixo poder aquisitivo. Aliás, as apresentações tinham um sentido inverso. Os músicos queriam, na verdade, agradecer à população, aos seus pais e amigos pelo incentivo que esses davam durante o dia a dia, retribuindo todo o esforço em forma de alegria e música. Ronaldo Souza assim descrevia “Há um bairro tradicionalmente querido pela Filarmônica e vice-versa: é o bairro do Cajá, talvez devido ao grande número de famílias que ali se instalavam: a Malaquias, a Souza, a Carvalho, dentre outras. Todas Dois de Julho!”. Perceba que esse “Todas” da última frase, nos traz o sentido da amizade e da participação efetiva.

Em toda sua vida, a “Filarmônica 2 de Julho” ganhou inúmeros títulos e troféus, sendo, portanto, orgulho em Maragogipe. Dos diversos músicos notáveis que por ela passaram, alguns são a inspiração para os mais novos componentes, falam-se muito nos irmãos Alfredo Rocha, Firmino Rocha e Antônio Rocha; em Anísio Bahia e nos irmãos André e Andrelino; outros também são citados e são de igual peso e importância.

Quando a instituição esteve sob a administração de Silvio José Santana Santos, o prédio foi reformado e ampliado, hoje já sob a responsabilidade de Djalma Reis Caldas, há no prédio, além da instituição, o InfoCentro Professora Valquíria Armede Ribeiro, inaugurado em 23 de junho de 2007; recentemente recebeu um auxílio financeiro do Governo do Estado para a aquisição de novos instrumentos e outros serviços de manutenção e a administração está pensando no futuro, refletindo sob seu passado glorioso, quando a “Recreativa 2 de Julho” ensinava aulas de dança.

É, a responsabilidade social sempre foi sua marca!!

Um VIVA à Dois de Julho!!!

Comentários

  1. Muito bem Zé Valdo fico feliz por participar desta família chamada 2 de julho , que merece respeito por hoje camonhar sozinha com seu maestro e seu corpo musical parabéns ...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Top 5 da Semana

Fotos antigas de São Félix, no Recôncavo da Bahia

Desde as primeiras décadas de sua existência a fotografia já mostrava o seu imenso potencial de uso. A produção fotográfica de unidades avulsas, de álbuns ou de coletâneas impressas abrangia um espectro ilimitado de atividades, especialmente urbanas, e que davam a medida da capacidade da fotografia em documentar eventos de natureza social ou individual, em instrumentalizar as áreas científicas, carentes de meios de acesso a fenômenos fora do alcance direto dos sentidos, as áreas administrativas, ávidas por otimizar funções organizativas e coercitivas, ou ainda em possibilitar a reprodução e divulgação maciça de qualquer tipologia de objetos. (leia mais em Fotografia e História: ensaio bibliográfico ) Neste sentido, a disponibilização de imagens fotográficas para o público leitor deste blog, é uma máxima que nós desejamos, pois a imagem revela muitos segredos.  Para ver mais fotografias: VISITE NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK Enchente em São Félix - cedido por Fabrício Gentil Navio da...

O Terreiro Ilê Axé Alabaxé,– “"A Casa que Põe e Dispõe de Tudo"

É com muito pesar que noticiamos o falecimento do Babalorixá Edinho de Oxóssi, será muito justo neste momento, republicarmos a história do Terreiro lIê Axé Alabaxé,– “"A Casa que Põe e Dispõe de Tudo", um local com que o nosso babalorixá tem suas intimidades reveladas. Sabendo que seria do agrado de muitos maragogipanos que desejam conhecer a nossa história, resolvi publicar esse texto e uma entrevista concedida pelo Babalorixá Edinho de Oxóssi encontrada no site ( http://alabaxe.xpg.uol.com.br/ ) Oxóssi O Terreiro lIê Axé Alabaxé,– “"A Casa que Põe e Dispõe de Tudo"   A cada ano, após a colheita, o rei de Ijexá saudava a abundancia de alimentos com uma festa, oferecendo à população inhame, milho e côco. O rei comemorava com sua família e seus súditos só as feiticeiras não eram convidadas. Furiosas com a desconsideração enviaram à festa um pássaro gigante que pousou no teto do palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada. O rei mandou chamar os...

Uma Breve História de Maragojipe, por Osvaldo Sá

Obs.: Este blog é adepto da grafia Maragogipe com o grafema G, mas neste texto, preservamos o uso da escrita de Maragojipe com o grafema J defendida pelo autor. Uma Breve História de Maragojipe Por Osvaldo Sá A origem do município de Maragojipe, como a de tantos outros municípios do Recôncavo Baiano, remonta ao período do Brasil Colonial, durante o ciclo da cana-de-açúcar. Conta a tradição popular que a origem do município deveu-se à existência de uma tribo indígena denominada “Marag-gyp”, que se estabeleceu em meados do século XVI às margens do Rio Paraguaçu. Destemidos e inteligentes, mas adversos à vida nômade, esses indígenas dedicavam-se ao cultivo do solo, à pesca e a caça de subsistência, manejando com maestria o arco e flecha e também o tarayra (espécie de machado pesado feito de pau-ferro), com o qual eram capazes de decepar de um só golpe a cabeça do inimigo. Osvaldo Sá, 1952 - Aos 44 ano Segundo a tradição da tribo, os mais velhos contavam que suas pri...

A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos (Carlos Lopes)

Neste momento, você terá a oportunidade de ler um pouco do fichamento do texto de Carlos Lopes "A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos. Na introdução Carlos Lopes tenta traçar uma “ apresentação crítica dos argumentos avançados pelos três grandes momentos de interpretação histórica da África ” (LOPES; 1995). Para ele a historiografia deste continente tem sido “ dominada por uma interpretação simplista e reducionista ”, mas antes do autor começar a falar sobre estes momentos, ele demonstra um paralelo da historiografia africana com um momento “ em que os historiadores estão cada vez mais próximos do poder ”, e afirma que estes historiadores são todos de uma mesma escola historiográfica que proclama “ a necessidade de uma reivindicação identitária ”, citando como exemplos “ de uma interdependência entre a História e o domínio político ” “Inferioridade Africana” É através do paradigma de Hegel - o "fardo" do homem branco -, que o ocidente conhec...

Sátira das Profissões, um documento egípcio que valoriza o escriba

Este é um trabalho de Pesquisa do Documento "Sátira das Profissões" escrito egípcios que contém incômodos existentes em cada tipo de trabalho, assim como a valorização do Escriba enquanto profissional. A leitura deste documento demonstra que a atividade intelectual era valorizada no Egito Antigo, muito diferente das atividades braçais que são classificadas de maneira grosseira pelo escritor do documento. O tema é curioso. É a história de um pai Khéti que conduz o filho adolescente Pépi para a escola de escribas da Corte por ser, segundo ele, a mais importante das profissões e durante a viagem da barca resolve comparar vários ofícios. Figura retirada do jogo Faraó, feito pela Sierra e sob licença da VU Games. Quais são as profissões do texto? As profissões descritas no texto são Ferreiro, Marceneiro, Joalheiro, Barbeiro, Colhedor de Papiro ou de Junco (que na verdade ele colhe o junco para daí fazer o papiro), Oleiro, Pedreiro, Carpinteiro, Hortelão, Lavrador, Tecelão, Por...