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Arquivo Público de Cachoeira abriga um dos acervos mais ricos do país

Por Flávio Novaes - Aqui Salvador


Abrigando um dos acervos mais ricos do país, 
Arquivo Público de Cachoeira está fechado há nove meses

A dificuldade em conhecer um tesouro de valor inestimável, que vive trancado a sete chaves, está deixando indóceis os pesquisadores de Cachoeira, no recôncavo baiano, a 110km de Salvador. O arquivo público da cidade, considerado um dos mais ricos do país, continua fechado nove meses após a transferência para o novo local de funcionamento, o antigo fórum de justiça, à beira do rio Paraguaçu.

Professores e alunos da recém-criada Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) sentem-se prejudicados e estão indignados com a impossibilidade de beber das informações, mesmo tão próximos da preciosa fonte. A fundação Pedro Calmon, vinculada à Secretaria da Cultura e responsável pela supervisão do arquivo, alega que todo o material está sendo restaurado e catalogado, o que impede o manuseio dos papéis.

Em junho de 2006, o arquivo foi transferido da antiga sede, um prédio situado na Ladeira da Cadeia, para um salão no primeiro andar do prédio principal que abriga a Fundação Hansen Bahia. Ali funcionou, de forma provisória, até ser transferido, em novembro do ano passado, para o seu destino final: o antigo fórum da cidade, a casa onde nasceu Augusto Teixeira de Freitas, referência do direito ao lado de Ruy Barbosa. Lá, aguarda o final dos trabalhos para ser aberto ao público.

“Não estão possibilitando as consultas, o acesso está tutorado pela fundação, que está prejudicando, e muito, nossos trabalhos”, afirma a professora Rita Doria, que ensina a disciplina Conservação de Bens Culturais, do curso de Museologia da (UFRB). “Os trabalhos estão se estendendo muito”, completa.

Mão-de-obra - Os pretensos usuários, hoje insatisfeitos com a impossibilidade do acesso, são oferecidos para acelerar os trabalhos. Segundo a professora Rita, a mão-de-obra dos alunos da disciplina – uma turma com aproximadamente 30 universitários – ajudaria na reforma. “Já nos colocamos à disposição para auxiliar”, diz. Ela alerta, ainda, que as pessoas que atualmente fazem o trabalho no arquivo são “incapacitadas”, sob o ponto de vista da conservação.

O diretor dos cursos de artes, humanidades e letras da UFRB também revela preocupação com o trabalho que considera lento. Para o professor Xavier Vatin, a saída é a realização de uma parceria entre as instituições. “Temos um corpo docente qualificado e podemos agilizar todo o processo”, diz ele, que é antropólogo e professor do curso de ciências sociais da universidade.

Apesar de fora da academia, a analista técnica da Secretaria de Educação, Rita Santana, idealizadora do Centro de Estudos Raízes do Recôncavo, é outra que se sente prejudicada.

Vencedora do prêmio Servidor Cidadão no ano passado, ela afirma existirem privilegiados que conseguem acesso após contatarem diretamente com a fundação, cuja sede é em Salvador, no Palácio Rio Branco. “Tenho um programa de rádio que fala sobre a história de Cachoeira. Sempre fiz pesquisas nos jornais antigos, mas agora é impossível”.

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Cautela vista como necessária
O professor de História do Brasil Império da UFRB Luiz Fernando Saraiva afirma entender as razões da Fundação Pedro Calmon. Segundo ele, o arquivo já foi organizado e reorganizado algumas vezes no passado e é preciso, agora, uma definição. “Abrir para consulta neste momento, sem critérios, sem um catálogo definido de busca, é suicídio”, afirma.

Saraiva, que desenvolve um projeto em companhia da professora Rita Doria para o arquivo municipal da vizinha São Félix, diz que deverá ainda ser realizado muito trabalho para classificar os documentos do arquivo cachoeirano em um índice. De acordo com ele, apenas os inventários post-mortem e os jornais estão com os registros de busca finalizados. “Quanto mais organizado, menor será a manipulação dos documentos”, completa.

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História contada em documentos
O acervo do arquivo municipal de Cachoeira revela fatos da história do Brasil nos períodos da Colônia e da República e, principalmente, no Império. Possui documentos importantes sobre a economia e costumes da região, que era uma das mais ricas do território nacional, da escravidão e do movimento de libertação da independência do Brasil na Bahia, dentre outros temas.

Muitos pesquisadores, a maioria deles estrangeiros, buscam informações valiosas em inventários, cartas de alforria e textos sobre as organizações religiosas, a exemplo das irmandades. “É um dos mais importantes arquivos do estado e essencial para as pesquisas referentes à independência do Brasil na Bahia”, afirma o historiador Luis Henrique Dias Tavares.

O prédio que hoje abriga o acervo é do final do século XVIII, época em que foi a residência do jurisconsulto Teixeira de Freitas. Por este motivo, foi tombado em 1941 pelo Iphan. Em 1947, em homenagem a Freitas, se transforma no fórum de justiça de Cachoeira.

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