Por Zevaldo Luiz Rodrigues de Sousa
Neste Ano Jubilar da Divina Misericórdia refletimos durante o novenário de São Bartolomeu de Maragogipe sobre tema importantíssimo e que na maioria das vezes, nos esquecemos. Poucas pessoas são misericordiosas como o Pai e por este motivo, há necessidade de reflexões. Foram nove noites motivadas pela Misericórdia Divina e nelas, aprendemos mais uma vez, que atitudes simples e cotidianas transformam vidas. Dar de comer aos famintos, Dar de beber aos sedentos, Vestir os nus, Acolher os peregrinos, Assistir aos enfermos, Visitar os presos, Enterrar os mortos, Aconselhar aos indecisos e Consolar os aflitos são motivações e atitudes cristãs que devemos ter ao longo de nossa vida sem a necessidade de pedir nada em troca. Fazer o bem sem olhar a quem!
Hoje, dia 27 de agosto de 2016, gostaria de deixar esta simples mensagem visando a construção de uma identidade religiosa e popular.
A Igreja de São Bartolomeu de Maragogipe tem história tricentenária que merece destaque. Para comprovar tal afirmação, viajo na história trazendo à luz desta mensagem a opinião do mestre Dr. Odilardo Uzeda Rodrigues, meu avô, que proferiu palestra no Cine Lourdes, em 28 de novembro de 1950, na sessão de homenagem a D. Augusto, para encerramento das festas tricentenárias da Igreja Matriz. Vale lembrar que naquele ano, Maragogipe comemorou o primeiro centenário de sua elevação à categoria atual, com a denominação de Patriótica Cidade, e em 12 de setembro deveria ter comemorado o tricentenário de inauguração da sua Matriz, o que entretanto, veio a fazê-lo no mês de novembro. As festividades comemorativas do terceiro século de existência da Casa do Senhor, erigida nesta terra abençoada, sob a invocação do Glorioso Apóstolo, teve a figura exemplar do Padre Florisvaldo José de Souza como líder da Comissão diretora e foi uma festa espetacular. Ressaltamos que, em 1989* foi substituída as comissões de festas do padroeiro, eleitas anualmente, que haviam sido incorporadas a Mesa Administrativa desde 1912, por uma Comissão de Festas escolhida pelos membros da Igreja de São Bartolomeu com o intuito de evitar conflitos que ocorriam por causa das eleições.
Mas aqui, cabe perguntar, quando São Bartolomeu tornou-se o padroeiro desta maravilhosa terra? Há diversas interpretações, mas não vamos nos prolongar. A história religiosa indica que os moradores desta terra tinham como principal protetor - São Gonçalo -, e após uma aparição de um homem alto, todo ensanguentado com uma adaga na mão sobre uma pedra no meio de uma pequena floresta para um escravo no período colonial fez surgir um sentimento novo na Fazenda do Capitão Bartolomeu Gatto que já era devoto de deste Apóstolo de Cristo e indicou para a comunidade que aquela aparição era uma manifestação Divina o que acabou por convencer a maioria da população e ao Rei de Portugal que os habitantes deste lugar deveriam construir este magnífico templo dedicado a São Bartolomeu.
Historiadores indicam que a construção teve início por volta do ano de 1640, mas dúvidas ainda pairam em torno da data de sua inauguração. Todavia, no testamento do Capitão Bartolomeu Gatto datado de 16 de dezembro de 1650 e revogado por novas disposições em 20 de outubro de 1651 faz referência a Igreja Matriz. Na época, o Padre Paulo de Sam Payo assina o referido documento como uma das testemunhas o que pode ser indício de que a Igreja Matriz de São Bartolomeu recentemente construída já estava em funcionamento. Por este motivo, aceitamos a ideia de que neste ano de 2016, Maragogipe comemorará no dia 12 de setembro, o 366º aniversário da Igreja Matriz de São Bartolomeu (sem contar os anos de debate e construção), data esta que deve ser comemorada todos os anos.
É claro que a Igreja de São Bartolomeu de Maragogipe sofreu inúmeros reparos ao longo do tempo, sendo ampliada, para que pudesse suportar galhardamente a ação iconoclasta do tempo e continuasse a ser o sacrário bendito onde a alma maragogipana pudesse se abeberar do consolo necessário para suas dores sob seu teto abençoado. Na leitura de documentos históricos verificamos que dos orçamentos da Província da Bahia nos anos de 1845, 53, 59, 81 e 88, consta a consignação de verbas nos valores para obras na Matriz de São Bartolomeu. Em 1941, sob os auspícios da comunidade e orientação do SPHAN foi renovada a pintura do forro da Igreja de São Bartolomeu de Maragogipe. Neste mesmo ano, a SPHAN tombou a Igreja de São Bartolomeu de Maragogipe, sob o nº 155 do livro de História, fl. 26, e sob o nº 296 do livro de Belas Artes, fl. 51. Ao longo do tempo, outras obras foram realizadas e até hoje, a beleza deste magnífico e glorioso Templo necessita de reparos constantes. A dificuldade é grande, mas com a ajuda da comunidade católica cristã o grandioso Templo de São Bartolomeu de Maragogipe se mantém firme e é destaque Arquitetônico Brasileiro. Preservar este Templo e cuidar para que a história deste Patrimônio não perca sua identidade, é dever de toda a comunidade católica maragogipana, priorizando também as características religiosas da Festa de São Bartolomeu.
Falando em Festa de São Bartolomeu – outro patrimônio histórico, cultural e religioso do povo maragogipano que precisa ser preservado e imaterializado, por ser parte da cultura popular sacra e profana da comunidade maragogipana, poucos são os dados encontrados da data de início da Festa de São Bartolomeu que tem sua história narrada, principalmente, por Fernanda Reis dos Santos, historiadora e amante da nossa rica história. Mas o pouco que sabemos é visto e sentido pela comunidade maragogipana ao longo do mês de agosto, nosso mês Maior.
A cultura popular e religiosa maragogipana nos lega sentimentos especiais. O pregão avisa a comunidade maragogipana em julho que o mês de agosto se aproxima. No primeiro domingo de agosto, o Bando Anunciador percorre as principais ruas da cidade distribuindo o programa da festa religiosa, e neste dia, cavaleiros e amazonas desfilam pela cidade com a participação especial da comissão de festas, filarmônicas, autoridades e toda a comunidade maragogipana envolvida com as festividades. Antigamente, o Bando anunciava para os habitantes das cidades e vilas próximas que no mês de agosto aconteceria a grandiosíssima Festa de São Bartolomeu.
No segundo domingo, acontece à purificação das almas através da secular Lavagem do Templo remontando o mutirão realizado no ano da inauguração da Igreja Matriz. O novenário de São Bartolomeu acontece sempre com muita fé e energias positivas para a comunidade cristã acompanhada da melodia glorificante do Coro e Orquestra Maria Imaculada Conceição.
No terceiro domingo, em uma festividade que marca o sagrado e o profano, num ato ecumênico, acontece a Lavagem Popular das ruas de São Bartolomeu.
O dia 24 de agosto é espetacular. Dia do Excelso e Insígne Padroeiro de Maragogipe – São Bartolomeu. Nele, renovamos sentimentos e a esperança da construção de uma sociedade mais justa, mais humana e mais misericordiosa, sem a necessidade de perseguições e devaneios de suas lideranças. O quarto e último domingo é o momento ímpar especial para toda comunidade cristã, nela celebramos o Domingo da Festa com Solene Concelebração Eucarística. Na Segunda da Festa, uma imponente Procissão percorre as principais ruas maragogipanas demonstrando a fé, o amor e a confiança que a comunidade cristã católica maragogipana tem com São Bartolomeu e Nossa Senhora da Conceição.
Para descrever cada detalhe da Igreja e da Festa de São Bartolomeu é imprescindível a produção de livro, mídia ou preservação da farta documentação existente e espalhada pelo mundo em um Arquivo Histórico. Diversos autores já se debruçaram nesta tarefa maravilhosa – Osvaldo Sá, Fernando Sá, Odilardo Rodrigues, Ronaldo Souza dentre tantos outros que deixaram marcas indeléveis de fé sem deixar de lado a questão histórica e racional. Hoje, vivemos incomodados com a falta de documentação histórica apesar de tantas produções. A comunidade maragogipana precisa ajudar neste processo de resgate histórico e religioso, principalmente, relatando suas histórias, memórias e relações de crença e fé na intercessão de São Bartolomeu. A musicalidade da Festa merece destaque especial com a produção de mídia e a história precisa ser contada nas escolas para que nossos jovens conheçam sua história para aprender a preservá-la.
Que São Bartolomeu interceda por toda a comunidade maragogipana para que os cidadãos de bem desta terra saibam escolher pessoas compromissadas com este Patrimônio, que merece ser Patrimônio da Humanidade.
Por Zevaldo Luiz Rodrigues de Sousa
Licenciado em História pela UFRB
*Obs.: Data alterada devido a erro histórico. No documento original constava 1995, mas o fato aconteceu em 1989.
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