Pular para o conteúdo principal

Câmara dos Deputados se prepara para votação de impeachment 24 anos pós-Collor


A Câmara dos Deputados se prepara, 24 anos depois, para, mais uma vez, decidir se autoriza ou não a abertura de processo de impeachment contra um presidente da República, no caso, contra a presidente Dilma Rousseff.


Em 1992, 441 deputados votaram sim e autorizaram o Senado a abrir processo contra o então presidente Fernando Collor. Só 38 votaram não. O que aconteceu em seguida entrou para os livros de história.

Depois da autorização da Câmara, o Senado abriu o processo e Collor foi afastado da presidência.

O afastamento era provisório, mas virou definitivo quando o próprio Senado, em uma sessão presidida pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Sidney Sanches, condenou o presidente, três meses depois.

Mas quais são as semelhanças e diferenças entre os dois casos? Dois cientistas políticos e um dos protagonistas daquela votação, o então presidente da Câmara Ibsen Pinheiro, comparam os dois processos.

Para o cientista político Flávio Testa os dois pedidos de abertura de processo tem pontos em comum. "O impeachment tem que ter um fundamento jurídico e uma boa cobertura política. Essa cobertura política está vinculada à pressão da população. E, claro, daquilo que a mídia faz para disseminar essa discussão. Então eu acho que nesse aspecto os dois são parecidos."

Acusações distintas
As acusações contra os dois presidentes, porém, são bem diferentes. Collor foi acusado por uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) de ter usado, em proveito próprio, mais de 6 milhões de dólares de um esquema de captação ilegal de dinheiro coordenado por seu ex-tesoureiro de campanha Paulo César Farias. Dilma Rousseff é acusada de ter autorizado manobras orçamentárias sem autorização do Congresso, as chamadas pedaladas fiscais.

O cientista político David Fleischer aponta outra diferença entre os dois casos: a reação dos dois presidentes ao processo. "Collor não fez a mesma contestação do impeachment que a presidente Dilma está falando, de que é golpe, que está ferindo a democracia, etc. Collor não fez nada disso porque acreditava fielmente que seria absolvido."

Vice-presidentes
Afastado, Collor acabou sendo sucedido por seu vice, Itamar Franco. As atuações de Itamar e do atual vice-presidente, Michel Temer, durante o processo também são bem diferentes, como aponta Ibsen Pinheiro.

"Itamar ficou absolutamente inerte, calado e quieto, até porque não houve uma polarização naquele processo, à medida que ele se desenvolveu. Naquele processo, de um lado, ficou todo o sentimento popular. De outro, o presidente Collor."

Apoio político
Outro fator que torna diferentes as situações de Dilma Rousseff e Fernando Collor é o apoio político durante o processo. Flávio Testa lembra que Collor não tinha base de sustentação no Congresso.

"Ele foi abandonado porque a sua base se dissolveu, as forças econômicas que deram suporte à sua chegada ao poder o abandonaram e ele foi literalmente rifado desse processo. É bem diferente do que acontece hoje. Há uma divisão grande, o governo tem uma boa base parlamentar ainda, há muitos interesses em jogo, mas a capacidade de sustentação ainda é significativa."

Internet e economia
Outros fatores tornam os dois processos muito diferentes. Segundo David Fleischer, a mobilização popular hoje é muito maior que a de 1992. "Hoje tem internet. Naquela época não tinha. Então, com seu laptop você mobiliza. Naquela época não tinha isso."

Além disso, a situação econômica também é distinta. Para Flávio Testa, apesar de o período Collor também ter sido marcado por uma crise econômica, a percepção da população hoje é de que a situação é pior.

"O governo Collor vem logo depois do regime militar, do governo Sarney, que teve muitas dificuldades. O governo Dilma passou por uma fase muito interessante. Nos dois mandatos do governo Lula a economia cresceu, aumentou a satisfação das categorias mais pobres e agora há uma insatisfação generalizada. E isso, evidentemente, vai impactar o comportamento dos parlamentares, principalmente porque nós teremos eleições em outubro", lembra cientista político.

Reta final
Em setembro de 1992, nos dias que antecederam a votação na Câmara, Collor começou a perder aliados que considerava fiéis. Ibsen Pinheiro lembra que eles mudaram de voto assim que seus adversários estaduais começaram a anunciar publicamente ser contra o presidente.

"Ninguém imaginava antes que passaria por 441 contra 38. Isso foi produto de uma profunda alteração na reta final do processo de impeachment."

Para David Fleisher, a eleição deste ano e a reação dos eleitores ao impeachment podem ser decisivos. "Mostra a máxima do deputado, tanto em 92 como agora, em 2016. Isto vai me ajudar a reeleger? Se eu votar a favor da Dilma meus adversários no meu estado vão cair em cima de mim por causa disso, em 2018 ou não."

Seja qual for o resultado da votação, Ibsen Pinheiro, que presidiu o processo contra Collor, alerta para o que pode acontecer no dia seguinte. Segundo ele, hoje existem mais perguntas do que em 1992.

"Antes todos sentíamos: afasta o Collor, tudo se normaliza. Agora, a questão tem que ter mais clareza. Afasta a presidente Dilma para que políticas? Para que caminho? Acho que isso está claro dos dois lados."

A sessão em que a Câmara vai decidir se autoriza ou não a abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff começa nesta sexta-feira e a previsão é de que termine somente no domingo à noite.

Reportagem - Antonio Vital
Edição – Natalia Doederlein

Comentários

Top 5 da Semana

Fotos antigas de São Félix, no Recôncavo da Bahia

Desde as primeiras décadas de sua existência a fotografia já mostrava o seu imenso potencial de uso. A produção fotográfica de unidades avulsas, de álbuns ou de coletâneas impressas abrangia um espectro ilimitado de atividades, especialmente urbanas, e que davam a medida da capacidade da fotografia em documentar eventos de natureza social ou individual, em instrumentalizar as áreas científicas, carentes de meios de acesso a fenômenos fora do alcance direto dos sentidos, as áreas administrativas, ávidas por otimizar funções organizativas e coercitivas, ou ainda em possibilitar a reprodução e divulgação maciça de qualquer tipologia de objetos. (leia mais em Fotografia e História: ensaio bibliográfico ) Neste sentido, a disponibilização de imagens fotográficas para o público leitor deste blog, é uma máxima que nós desejamos, pois a imagem revela muitos segredos.  Para ver mais fotografias: VISITE NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK Enchente em São Félix - cedido por Fabrício Gentil Navio da...

O Terreiro Ilê Axé Alabaxé,– “"A Casa que Põe e Dispõe de Tudo"

É com muito pesar que noticiamos o falecimento do Babalorixá Edinho de Oxóssi, será muito justo neste momento, republicarmos a história do Terreiro lIê Axé Alabaxé,– “"A Casa que Põe e Dispõe de Tudo", um local com que o nosso babalorixá tem suas intimidades reveladas. Sabendo que seria do agrado de muitos maragogipanos que desejam conhecer a nossa história, resolvi publicar esse texto e uma entrevista concedida pelo Babalorixá Edinho de Oxóssi encontrada no site ( http://alabaxe.xpg.uol.com.br/ ) Oxóssi O Terreiro lIê Axé Alabaxé,– “"A Casa que Põe e Dispõe de Tudo"   A cada ano, após a colheita, o rei de Ijexá saudava a abundancia de alimentos com uma festa, oferecendo à população inhame, milho e côco. O rei comemorava com sua família e seus súditos só as feiticeiras não eram convidadas. Furiosas com a desconsideração enviaram à festa um pássaro gigante que pousou no teto do palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada. O rei mandou chamar os...

Sátira das Profissões, um documento egípcio que valoriza o escriba

Este é um trabalho de Pesquisa do Documento "Sátira das Profissões" escrito egípcios que contém incômodos existentes em cada tipo de trabalho, assim como a valorização do Escriba enquanto profissional. A leitura deste documento demonstra que a atividade intelectual era valorizada no Egito Antigo, muito diferente das atividades braçais que são classificadas de maneira grosseira pelo escritor do documento. O tema é curioso. É a história de um pai Khéti que conduz o filho adolescente Pépi para a escola de escribas da Corte por ser, segundo ele, a mais importante das profissões e durante a viagem da barca resolve comparar vários ofícios. Figura retirada do jogo Faraó, feito pela Sierra e sob licença da VU Games. Quais são as profissões do texto? As profissões descritas no texto são Ferreiro, Marceneiro, Joalheiro, Barbeiro, Colhedor de Papiro ou de Junco (que na verdade ele colhe o junco para daí fazer o papiro), Oleiro, Pedreiro, Carpinteiro, Hortelão, Lavrador, Tecelão, Por...

A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos (Carlos Lopes)

Neste momento, você terá a oportunidade de ler um pouco do fichamento do texto de Carlos Lopes "A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos. Na introdução Carlos Lopes tenta traçar uma “ apresentação crítica dos argumentos avançados pelos três grandes momentos de interpretação histórica da África ” (LOPES; 1995). Para ele a historiografia deste continente tem sido “ dominada por uma interpretação simplista e reducionista ”, mas antes do autor começar a falar sobre estes momentos, ele demonstra um paralelo da historiografia africana com um momento “ em que os historiadores estão cada vez mais próximos do poder ”, e afirma que estes historiadores são todos de uma mesma escola historiográfica que proclama “ a necessidade de uma reivindicação identitária ”, citando como exemplos “ de uma interdependência entre a História e o domínio político ” “Inferioridade Africana” É através do paradigma de Hegel - o "fardo" do homem branco -, que o ocidente conhec...

Uma Breve História de Maragojipe, por Osvaldo Sá

Obs.: Este blog é adepto da grafia Maragogipe com o grafema G, mas neste texto, preservamos o uso da escrita de Maragojipe com o grafema J defendida pelo autor. Uma Breve História de Maragojipe Por Osvaldo Sá A origem do município de Maragojipe, como a de tantos outros municípios do Recôncavo Baiano, remonta ao período do Brasil Colonial, durante o ciclo da cana-de-açúcar. Conta a tradição popular que a origem do município deveu-se à existência de uma tribo indígena denominada “Marag-gyp”, que se estabeleceu em meados do século XVI às margens do Rio Paraguaçu. Destemidos e inteligentes, mas adversos à vida nômade, esses indígenas dedicavam-se ao cultivo do solo, à pesca e a caça de subsistência, manejando com maestria o arco e flecha e também o tarayra (espécie de machado pesado feito de pau-ferro), com o qual eram capazes de decepar de um só golpe a cabeça do inimigo. Osvaldo Sá, 1952 - Aos 44 ano Segundo a tradição da tribo, os mais velhos contavam que suas pri...