Carlos Laranjeira
O poeta da preferência da maioria dos jovens de hoje, Osvaldo Sá, foi historiador e prosador dos melhores que a cidade teve. A sua poesia trouxe benefícios a muitos rapazes e moças para se iniciarem no mundo das letras (a mim, foi útil a prosa), mas ele prestou mais serviços à cidade como historiador.
Nos dias que antecediam a Festa de São Bartolomeu, o jornal A Tarde tinha por hábito enviar repórter e fotógrafo a Maragogipe para entrevista-lo e dele recolher histórias, inclusive da construção da Igreja do Padroeiro São Bartolomeu, cuja frente fica em direção à Rua Nova.
Lembro como hoje: quando Osvaldo explicou o motivo pelo qual a igreja foi construída com a frente para a Rua Nova, e não para o Largo onde se concentram milhares de pessoas durante as celebrações ao Padroeiro, gerou uma repercussão que ultrapassou os limites da cidade.
Ele deu a seguinte explicação: a Rua Nova foi a primeira a ser pavimentada com pedras miúdas, e para ela afluíam pessoas, essa convergência estimulou a proliferação de casas para comprar e vender produtos e assim (a Rua Nova) virou centro comercial.
Então, ao ser construída em 1730, a frente do templo foi direcionada para essa rua, não para a área que fica atrás da igreja, pois nela só havia mato. Mas, com o transcorrer dos anos, essa área hoje chamada de Largo da Igreja recebeu melhoramentos públicos e, com a instalação das fábricas de charutos Dannemann e Suerdieck, ocorreu uma explosão demográfica, a cidade expandiu-se para todos os lados, mas alterar a posição da frente da igreja não seria mais possível.
O poeta mais importante de Maragogipe não é Osvaldo Sá e sim Durval de Moraes, que viveu entre a Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, não se envolveu com modernistas como Mário de Andrade e Cassiano Ricardo, manteve-se fiel ao simbolismo, movimento por meio do qual o autor penetra fundo no mundo invisível e impalpável do ser humano e faleceu aos 64 anos, em 1948. Durval de Moraes será focalizado com mais detalhes em outro texto.
Osvaldo publicou em jornais bastantes poesias que, posteriormente, reuniria em livros. Os jornais que as publicavam (Arquivo, de Maragogipe; O São Félix, de São Félix; A Cachoeira, de Cachoeira e de outras cidades) deram –lhe popularidade, mas estudioso da história local transformou-se numa fonte de clareza de informações e casos obscuros, por essa razão jornais diários da influência de A Tarde deslocavam repórteres de Salvador a Maragogipe para entrevistá-lo e recolher histórias.
Osvaldo ficava indignado no instante em que professoras mandavam alunos procura-lo em busca de informações de natureza histórica. Eu mesmo assisti a uma dessas indignações em sua biblioteca assim que estudantes bateram à porta da casa:
-Por que as professoras não pedem para os alunos comprarem o livro, elas não entendem que o escritor, o historiador ou seja lá quem for depende da venda de seus produtos para sobreviver?
A venda tem sido uma luta persistente do autor e quando vende o produto o lucro não é suficiente para sustentá-lo, por essa razão a maioria dos autores sobrevive de empregos públicos, de aulas em colégios e faculdades, produção de textos para rádio, teatro e TV, venda de artigos a revistas de circulação nacional ou, se a fama justifica, cobra por cada entrevista.
Nos tempos áureos da fábrica de charutos Suerdieck, que adquiriu a Dannemann, Maragogipe era uma cidade romântica sob a luz fraca da Companhia de Eletricidade. O fornecimento de luz era quase toda noite interrompido e a escuridão, sob o clarão da lua, excitava os poetas e os contadores de casos.
Continua.
Atenção: em alusão ao artigo anterior, esclareço: Bartolomeu Americano morava no fundo de sua propriedade, ao lado da casa de Juarez Guerreiro e não no fundo da casa de Juarez Guerreiro.
Jornalista, Carlos Laranjeira é autor de livros. Nascido em Maragogipe, encontra-se em São Bernardo do Campo desde 1973.
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