"Se tomar a pílula azul, a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se: tudo o que ofereço é a verdade. Nada mais." Morpheu (Filme Matrix)
Escrito por Zevaldo Sousa
(Professor de História)
Caro colega professor,
Escrevi este texto especialmente para você que está vivenciando cotidianamente a desvalorização da sua profissão por parte da sociedade como um todo e de um modo geral, da disciplina que tanto amamos e que temos a consciência que é necessária para a reflexão cidadã, ética e para o desenvolvimento de competências e habilidades essenciais para a construção de uma sociedade cada vez mais justa e humana.
Este texto também foi dividido em três partes. Esta primeira parte tratará das Competências e Habilidades Intrapessoais. Os outros dois textos irão tratar das Competências e Habilidades Interpessoais e Cognitivas.
Este texto também foi dividido em três partes. Esta primeira parte tratará das Competências e Habilidades Intrapessoais. Os outros dois textos irão tratar das Competências e Habilidades Interpessoais e Cognitivas.
É importante ressaltar que essa desvalorização já era visível em uma sociedade desconectada e neste momento, em que uma boa parte das pessoas - e dos jovens em geral - têm em suas mãos, um smartphone conectado a rede mundial de computadores com todas as informações e desinformações que deixam tudo muito mais difícil na vida do professor. Como valorizar alguém que só transmite informações sem produzir conhecimento se estas mesmas informações estão a minha disposição em um simples clique?
É isso mesmo e tenho certeza que esta introdução parece muito mais um clichê para você que já está acostumado a ouvir tudo isso e muito mais em formações, na sala de professores, numa roda de conversa com colegas ou até quando é apresentado para alguém como professor de história. Neste momento, tenho certeza que os olhares arregalados e esfuziantes te encaram para te tachar com qualquer rótulo depreciativo. Esta é a mais pura verdade. Nossa profissão segue um caminho de luta e necessita encontrar o caminho das vitórias.
Na sala de aula de muitos educadores, o desinteresse dos seus estudantes é nítido e as vezes nos perguntamos se há realmente necessidade de encarar este problema como um desafio individual visto que ele deveria ser um desafio coletivo. O que fazer diante de tal situação?
Eis que neste momento, surgirá diversas pessoas para dizer que você deve sair do papel de destaque em sua sala de aula e transferir esse papel para o aluno. Mas, como fazer isso? Se na escola em que me formei aprendi assim, se na faculdade em que me formei aprendi assim. Como posso mudar se não conheço a prática? Falar é fácil, praticar em sala de aula é muito mais difícil quando temos um currículo definido; metas a cumprir; e o MEC com a BNCC como ficam? E a Secretaria de Educação com seus gerentes, assessores, pedagogos e diretores nos exigindo que determinado assunto seja ministrado e ainda por cima; com o advento da onda conservadora, pessoas da sociedade e de dentro da escola criticando quando coloco em evidência determinado assunto; e os alunos que cobram conteúdos voltados para o ENEM ou não querem nem saber de nada; e...
Reclamações temos muitas e apenas incorporamos neste rol as reclamações diárias e profissionais, mas e a nossa vida? Nossa família? Nossos amigos e momentos de lazer? Onde ficam? Se essa é a sua resposta tenho boas novas para lhes dar.
Reclamações temos muitas e apenas incorporamos neste rol as reclamações diárias e profissionais, mas e a nossa vida? Nossa família? Nossos amigos e momentos de lazer? Onde ficam? Se essa é a sua resposta tenho boas novas para lhes dar.
Não é fácil ser professor hoje em dia e neste sentido, há urgente necessidade de mudança do foco. Você não está sozinho e há pessoas que vivem esta mesma realidade e que já estão promovendo uma mudança significativa em sala de aula, mas este não será o texto dos bons exemplos. Aqui queremos lançar bases para que você, professor de História ou de qualquer outra área, que está interessado em alcançar seus objetivos, transformar a educação e a disciplina de História impactando direta e indiretamente na vida das pessoas conectadas a você, pessoalmente ou virtualmente.
E aí, está preparado para iniciar esta jornada no País das Maravilhas?
E aí, está preparado para iniciar esta jornada no País das Maravilhas?
Portanto, segue abaixo algumas dicas, ideias e propostas importantes para o seu desenvolvimento pessoal e profissional:
COMPETÊNCIAS E
HABILIDADES INTRAPESSOAIS
1. Autocuidado, Consciência, Determinação e Perseverança
- Impacto na vida do professor: Antes de tudo, você precisa realizar um movimento interno, para depois expandir o conhecimento. Vale lembrar que a motivação para a mudança deve partir de você e portanto, ela é pessoal, intransferível e personalizada, pois cada ser humano tem um perfil próprio e natural. Lembre do aforismo grego escrito no Templo de Delfos que diz "Conhece a ti mesmo", sendo assim você precisa se conhecer, cuidar de si, sentir bem consigo mesmo, determinado e perseverante. Somente a partir deste momento, você poderá traçar seu próprio caminho de aprendizagem para a mudança mais significativa que ocorrerá na sua vida e no seu trabalho. Este movimento, para algumas pessoas, é o mais difícil, pois esta pessoa precisa quebrar paradigmas, dogmas e morais pessoais enraizadas no seu modo de viver. Sair da zona de conforto é essencial para que a mudança seja significativa para a pessoa que é a parte mais interessada neste processo: VOCÊ! É essencial estar bem consigo mesmo para poder ajudar as pessoas.
- Impacto na vida do estudante: Este passo é essencial para a mudança e para a inovação na sala de aula. Se você consegue entender a si, ou pelo menos tenta, poderá levar para a sala de aula momentos mais descontraídos e essenciais para que seus alunos também realizem este mesmo movimento e com isso, encontrem a motivação necessária para aprender a aprender convivendo com as pessoas e respeitando as particularidades de cada colega.
- Uma observação: Não espere a mudança ocorrer em si para realizar o movimento em sala. Estamos o tempo todo conectados e tenha certeza que os alunos também poderão ajudar uns aos outros e até a você neste movimento constante e eterno de desenvolvimento pessoal e profissional.
2. Automonitoramento e autoavaliação
- Impacto na vida do professor: Estando motivado e consciente de que deve sair da zona de conforto, você pode iniciar com a seguinte missão. Desenvolver a habilidade de automonitoramento para que no dia a dia esteja sempre realizando autoavaliações da sua postura enquanto cidadão e sobretudo, profissional. Muitos professores de História costumam apenas falar que esta disciplina desenvolve a habilidade de análise crítica dos fatos e ideias, mas também deveria desenvolver a habilidade que hoje é essencial em nossas vidas - A habilidade de realizar uma autocrítica e de escuta ativa aceitando a crítica dos colegas e alunos e aqui vale uma observação. Aceitar uma crítica não significa aprová-la. Eu posso aceitar a sua crítica e não aprovar, contra-argumentando de maneira assertiva ou simplesmente ignorando. Com isso, você tem uma fonte inesgotável de aprendizado para a melhoria constante dos seus processos de ensino e da aprendizagem dos nossos alunos.
- Impacto na vida do estudante: Se você é capaz de realizar este movimento de automonitoramento, autoavaliação e autocrítica perceberá que o exemplo será dado aos seus alunos e muitos deles, passarão a realizar este mesmo movimento para além das propostas de exercícios autoavaliativos que você deverá também realizar. É muito importante que hoje façamos este tipo de exercício, pois somente assim, definimos nossas metas e objetivos e com isso, buscamos as melhorias que desejamos sempre e, para além dos nossos desejos e interesses, também acabamos por ouvir e tentar entender e compreender as expectativas que os outros têm de nós, para com isso, traçarmos nosso próprio caminho de aprendizado.
3. Autodidatismo, Interesse Intelectual e Autonomia
- Impacto na vida do professor: Tenho certeza que você está plenamente consciente de que não consegue armazenar no seu cérebro todas as informações dos livros e artigos que leu e que esta informação está disponível na nuvem e acessível tablets, smartphones e computadores espalhados em qualquer lugar do planeta. Todavia, ao longo de sua trajetória profissional, os exemplos que teve em sala de aula te permitiram ter em sua caixa de ferramentas um arsenal de vivências essenciais para conhecer um pouco mais dos seus alunos. Sendo assim, você já tem muitas informações essenciais, mas não tem a informação essencial. Cada estudante, assim como você, tem interesses, desejos, metas, expectativas, sentimentos, emoções, habilidades e competências particulares e na "Era da Informação" ter esta informação é essencial para o desenvolvimento de um bom trabalho para obter a atenção dos seus alunos. Para isso, é necessário muito estudo, análises, criação ou adaptação de fichas, coletas e o desenvolvendo da habilidade prática da pesquisa para criar uma cultura da busca eterna pelo conhecimento. Se você é um professor que é interessado pela ciência e cultura você falará ricamente para seus alunos e o momento de aula ganhará um quê especial que merecerá atenção, pois você conhece não somente o conteúdo, mas os próprios estudantes. Somente assim, poderá personalizar os caminhos de aprendizado de cada estudante.
- Impacto na vida do estudante: Mais uma vez, exemplo dado pode ser seguido. Talvez, não por muitos estudantes, porque poucas são as pessoas que adquiriram a habilidade de traçar seu próprio caminho de aprendizado com autonomia e autodidatismo. Muitas pessoas ainda estão presas ao que o professor irá transmitir. Para criar uma cultura da busca eterna pelo conhecimento nos seus alunos você precisará mudar a metodologia aplicada em sala de aula e uma das mais recomendadas neste momento é a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), pois com ela você pode problematizar algum assunto de modo geral, instigar os alunos a criarem suas próprias perguntas de acordo com seus próprios interesses, inserindo assim, os conteúdos da unidade, realizando um movimento interdisciplinar, e ao final, os alunos deverão apresentar algum tipo de produto que pode ser textual, oral ou audiovisual. Seja como for, deverá impactar não somente na vida deles como na de outras pessoas, resolvendo assim, um problema. Perceba a mudança prática que esta metodologia poderá impactar na vida dos alunos que deixarão de ser meros expectadores e passarão a ser produtores do conhecimento e você sabe muito bem professor que a comunidade adora conhecer a riqueza da produção intelectual dos seus estudantes.
Espero encerrar esta primeira parte com a certeza de que você está querendo saber um pouco mais sobre o assunto. No próximo texto, falaremos mais sobre as competências interpessoais. Aguarde...
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